segunda-feira, 21 de novembro de 2016

[LUDOCULTURAL] AVERY MCDALDNO E JOGOS QUE SIGNIFICAM - PARTE 2

 Olá!

Vamos dar continuidade a matéria sobre os jogos narrativos de Avery Mcdaldno, e sua imensa contribuição para este segmento do RPG.

Ok, muitos que conhecem jogos independentes (termo também difícil de definir…) já a conhecem e já sabem do que estamos falando, mas vamos lá. Avery faz jogos densos, sobre escolhas significativas e, com mecânicas simples e premissas bem trabalhadas, fazem você e seu grupo de jogo pensarem bastante sobre coisas que se apresentam nas nossas vidas, como mudança, criação coletiva de alguma coisa, repressão estatal e direitos civis, sexualidade, intolerância e segurança nas mesas de jogo. Basta ler qualquer jogo da autora para observar a grande preocupação que ela possui em ser entendida, em comunicar bem, em quase abraçar quem estiver lendo seus jogos. Apenas para ilustrar, no Perfect Unrevised há uma grande seção destinada a conversar com novatos, veteranos em jogos narrativos, a tratar a violência, a utilizar as técnicas de linhas e véus (presentes em vários jogos, como no Violentina de Eduardo Caetano, por exemplo). Ou seja, há um real carinho em torno da criação e publicação de jogos. E isto se faz muito necessário em ambientes tóxicos que se reproduzem na cena de jogos analógicos no Brasil.

The Deep Forest

Mas ainda tem mais, e nem estou falando de The Deep Forest  que adapta The Quiet Year para uma perspectiva pós-colonial em um trabalho conjunto de Avery com Mark Diaz Truman (autor de Urban Shadows, Cartel e Our Last Best Hope, entre outros) que coloca os jogadores no papel de monstros que foram devastados por humanos. Aqui a perspectiva não é humana, mas de seres vistos como “bestiais”, mas que na verdade possuem organizações sociais particulares. Um baita questionamento sobre etnicidade, por exemplo.

Mas chegamos até aqui e talvez o mais importante não foi apresentado: algo sobre a autoria. Avery já foi Joe Mcdaldno. Avery é uma autora que não apenas discute (e muito bem) representação mas ela busca o questionamento da normatividade no seu design de jogos, uma extensão de sua própria ação social. Ué, mas esta postagem não em um blog de jogos, em um blog de RPG e demais jogos analógicos? O que esse papo estranho está fazendo aqui? Ele tem de estar aqui. E vamos lá.

Há algum tempo temos situações muito complicadas na “cena nerd” (outro termo péssimo) e normalmente há reverberações coercitivas e punitivas (algo necessário, aliás), mas não observo o sublinhar em boas ações que visam ingame trabalhar a diversidade social que se defende. Ainda há os mesmos grupos trabalhando sobre temas ditos “genéricos” que insistem em nem ao menos representar outros grupos sociais. Mas o que falamos aqui é mais que representar, é ter mulheres, negros, pessoas trans e toda a beleza da pluralidade que compõe nossa sociedade não como ilustração em páginas, mas produzindo, ganhando notoriedade e inserindo nas mecânicas e temáticas dos jogos tais questionamentos (recomendo muito os slides que Avery fez, estão no último link que postei, no início deste parágrafo). Logo, conhecer e jogar os jogos da autora são importantes como motores para a ação constante de promover jogos seguros e que prezem pela diversidade.

Bem, e se você explorar o site da autora ainda terá acesso a comentários de outros desenvolvedores, vai se surpreender pois vários destes jogos incríveis são GRATUITOS ou bem baratos e vai ter acesso a adaptações dos jogos para outros cenários (os hacks). Só para você ter uma ideia, há um hack do Ribbon Drive chamado Slashed to Ribbons que tem como proposta de transportar para filmes de terror do gênero Slasher, como Sexta-Feira 13. E sim, eu sempre darei uma atenção especial ao horror e ao terror, meu quinhão de mais apreço.

Monsterhearts



Mas Avery não está muito distante de nós. Muitos conhecem seu trabalho por Monsterhearts, um jogo sobre sexualidade e amadurecimento no qual os jogadores se colocam no papel de monstros e emulam séries como Teen Wolf, por exemplo. Mas ela ainda está mais próxima de nós. Dream Askew, um jogo narrativo sem mestre e sem dados sobre o apocalipse Queer com escolhas difíceis a serem tomadas em um mundo sem recursos chegará ao Brasil ainda este ano, em uma ação de tradução e edição conjunta entre o Livro dos Espelhos e o Inseto Vermelho. Vale parabenizar a iniciativa de Alan Silva (autor de Cachorros Samurais, Veridiana e Erótica, que já trouxe o Teen Witch da mesma autora) e Eva Morrisey (tradutora e revisora de títulos como Numenera e membro da Corte de Copas) por trazer este jogo justamente no momento em que estamos passando. 

Então que joguemos um pouco mais jogos que significam,e  espero que tenham gostado!

Jorge dos Santos Valpaços 

2 comentários:

  1. Não conhecia, gostei muito da sua publicação.

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  2. Olá amigas e amigos, tudo bom? Bem, sou o autor do texto acima e vale a pena algumas considerações adicionais, pois o escrevi há algum tempo atrás. Ele foi passado faz alguns meses e está sendo postado em partes, pouco a pouco.

    Bem, seguem os comentários.
    1. Avery assina atualmente como Avery Alder e não mais como Avery Mcdaldno. É um ponto importante por vários aspectos.
    2. Monsterhearts encontra-se com a segunda edição em um processo de financiamento coletivo. Segue o link para o mesmo -
    https://www.kickstarter.com/projects/averyalder/monsterhearts-2

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