quinta-feira, 29 de março de 2012

Definindo RPG Indie...

O presente texto é uma contribuição. Não estabelece verdades, e nem se omite de ajudar a encontrar uma definição, sendo uma forma de enriquecer idéias e conceitos sobre RPG, mas deve ser lido como opinião, tentativa de aproximação do "coiote escorregadio" que a Verdade Absoluta sempre acaba se apresentando.

Definições são como facas arremessadas contra alvos, descrever a realidade (ainda que parcial e incompleta).

E como tais, definições sempre podem e devem ser afiadas, lapidadas, ou ,mesmo, descartadas, quando se mostram quebradiças. Não há uma definição "universal" sobre o termo, e tudo o que resta são opiniões.

Fora isso, sou um fã confesso de RPG diferentes (eu odeio termos como "indie" ou "old School", mas eles existem, então cabe a nós fazermos o melhlor uso possível deles), e o texto deve ser lido com este conhecimento. Um fã de jogos mais convencionais certamente escreveria de outra forma. Creio que devemos tentar ser neutros, e já que não posso fingir não adorar este tipo de RPG, que, ao menos, possa escrever sobre isso com sinceridade.

Enfim... vamos à pergunta: QUE CATSO é um "RPG Indie"?

Indie é uma expressão de origem estrangeira, que, na prática, define o que chamaríamos aqui como "alternativo". Assim, RPG, que já é um passa-tempo alternativo alternativo, tem nos "indies" formas ainda menos convencionais de se jogar e de se contar histórias.

(Isso explicou alguma coisa? Não?)

Então vamos tentar de outro modo. RPGs indies são RPGs que podem  ou não ser "Old School", mas jamais serão "Mainstream"!

(E agora, foi? É também acho que não).

Okay, RPGs Indies são jogos de imaginação que se preocupam mais com o "Role" do que com o "Rule", ou mais com o "Role Play" que com a rolagem (de dados).

Melhorou, mas ainda não bateu um "Aaaah! Agora saquei!".

Então vamos tentar de mais uma forma:
RPG indie são RPGs que usam fórmulas menos convencionais de Role Play, que priorizam enormemente a interpretação ,não paenas como discurso, mas como prática, com sistemas mais "simples", que existem, em diferentes graus de criatividade quase desde o surgimento do RPG.

Desta forma, RPgs "Indies" são uma definição falha, porque não são "alternativos", mas "Alternativas" de narração e jogabilidade.

-Se RPGs como Cyberpunk, Gurps ou D&D fossem estudantes, seriam de exatas, focados em uma narrativa "quantitativa".

-RPGs Indies, como "Fiasco", "Dust Devils", "Shotgun Diaries" ou "Happy Birthday, Robot" seriam, indiscutivelmente, de humanas, pois se preocupam com o "qualitativo" da interpretação. E um monte de outros ficariam no meio do caminho, com pessoas divergindo sobre isso ou aquilo.

Então, vamos brincar de estudante de exatas, primeiro, e vamos tentar definir usando critérios "quantificáveis" o que são RPGs "Indies":

1-Formato: Tendem a ser menores (menos páginas), sem nenhum ou muitos suplementos, com menos ilustrações, tabelas e afins.

2-Arte: As ilustrações de um RPG "tradicional" são mais ilustrativas, precisas, coloridas. Já a arte de um "indie" tendem a refletir o conceito que o jogo traz: Mais "simbólicas", elas são provocativas. Não direcionam tanto o leitor a visualizar um tipo de personagem, mas sim deixam mais espaço aberto para o leitor preencher as lacunas (talvez por isso, e não apenas por custos, tantos indies sejam preto e branco).

3-Sistema: Os sistemas são mais abertos. Na prática isso significa que levam a chamada "regra de ouro" do RPG (a idéia de que toda regra pode ser quebrada pelo mestre em prol de uma aventura mais interessante) bem mais a sério. Não apenas dizem em um parágrafo "mas, claro, você pode fazer do seu jeito", mas realmente estimulam no texto que isso seja feito. As regras apresentam a tendência de serem mais flexíveis, eliminando do contexto o sentido dos assim chamados "advogados de regras".
Em geral usam d6 em números variados, onde os próprios rolamentos são interpretados (não basta dizer que acerta um inimigo, faz bem descrever onde, como, que cicatrizes deixou, a gota de sangue caindo no martini da loira ao lado, etc), e não mero objetivo "numero-alvo".

4-Horizontalidade Narrativa: São sistemas que entendem o Narrador/ Mestre mais como um "facilitador" de uma história contada por todos, do que como diretor com um roteiro a ser interpretado. Há menos verticalização e diferenciação da figura do mestre e dos jogadores. em alguns, como Dust Devils ou Fiasco, nem mesmo há um mestre de fato.

A história raramente conta com um enredo anterior, e vai sendo produzida por todos, que contribuem de modo bem mais ativo para a descrição de detalhes dos personagens ou das tramas.

5-Gadgets: Se tendem a ter poucos "cacarecos, os que tem (a imaginação e a capacidade de dar voz a uma história) tendem a ser usado de forma única. Nada de mapa de Dungeons, miniaturas ou programa de fichas pela internet (nada contra, acho legal, mas também gosto de me ver livre da tranqueira de vez em quando). 

6-Publico-Alvo: Em geral são jogadores que já jogam RPG há algum tempo, mas há uma tendência a  que este público se expanda. Afinal, a criatividade envolvida em um jogo como "Cat" (obrigado ao Diogo por me apresentar este) é enorme, e tende a se adaptar ao gosto de cada freguês. O mesmo se passa com "Fiasco", que pode ser adaptado a quase qualquer ambientação com um m´pinimo de esforço.

7-Ambientação: O diferencial dos RPGs "Indies" é que a proipria ambientação tende ao incomum no RPG (não sempre). Ou, pelo menos a abordagem ou ótica é diferente.
Por exemplo: filmes de monstro com cientistas loucos: Os assistentes nunca são relevantes. Mas o bom

"My Life With Master" traz os jogadores na pele de assistentes de um vilão, amado por eles (e só por eles), que precisam ajudar o chefe em algum plano bizarro.

Na mesma linha temos Fiasco, que ao contrario do seriado e do RPG "Leverage", onde planos mirabolantes dão certo, o barato é fazer as coisas darem com os burros nágua de forma homérica.

Em  "Kill Puppies for Satan" os jogadores são convidados a parodiar satanistas (tema espinhoso para alguns, mas adoro humor negro).

Mulheres Machonas fazia os jogadores encarnarem mulheres masculinizadas de filmes (no fundo, mais machistas que a média).

Caverna de Og traz os personagens a encarnarem neandertais. Com o diferencial de que cada um só pode usar meia dúzia de palavras na mesa.

Ninja Burguer trata de lanchonetes e ninjas. Um nonsense divertido.

44: A game of Authomatic Fear é um jogo sobre paranóia americana contra comunuistas, passado na década de 50 (outrs épocas são sugeridas) onde as pessoas estão sendo transformadas em robôs e eles ´precisam fugir.

Eu diria que um RPG é mais ou menos "Indie" quanto mais características acima apresentar. Eu chuto que com 4 das características acima bem definidas em um jogo, já dá para chamar ele de Indie. Talvez.

Agora, vamos brincar de estudante de Humanas: Se reparou bem, a palavra que mais tem nas características é "Tendência" (e entender e tender, e entendimento).
Se fosse classificar RPG Indie de outro modo, usaria o termo "tendência, então, necessariamente.
Um RPG "Indie" é uma tendência social de jogadores e jogadores em potencial de estarem contando uma história de forma mais participativa. Esta mesma tendência transformou o termo "mestre" em "narrador" ao longo dos anos ainda que não de forma absoluta), e é uma resposta possível a jogos de combate (que os computadores trazem com resultados mais eficazes, incluindo jogos-mundo para fins de interação), porque fortalecem a experiência única que são os dialogos (mesmo para jogos narrativos "on-line") com outras pessoas a todo momento, sem a intermediação de uma máquina interpretando os resultados.

RPGs Indie não são jogos de interatividade, no sentido do jargão de jogos de computadores. São jogos de interação. Em essência, resgatam um pouco o insigth que os criaram, a de que as pessoas gostam de se relacionar e trocar idéias. Uma simulação, em um tabuleiro ou em um jogo de computador, podem ser agradáveis, mas não substituem a tendência que os RPGs "de mesa" trazem para os jogadores, que é a socialização mais ampla, em que outra pessoa nos ouve e nos significa, e não somos apenas mera foormula matemática para uma calculadora gigante (seja um computador, seja um Nerd armado de uma calculadora científica).

Enfim:
RPGs Indie são, no geral, RPGs com arte preta e branca e sistemas simples. Mas como resultado, obtém ambientações coloridas e ações mais interativas.
Dão liberdade, em vez de fazer o jogador e mestre "comprar e pagar caro" para achar que a tem.

Brega Presley

2 comentários:

  1. RPG Indie são de Humanas e os tradicionais são de Exatas.

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  2. Quer ver o que vai sair quando lançarem um tipo de RPG de Bio, hehehe. Mas realmente entendo a coisa por aí mesmo, Daniel.

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