O ato de se sentar em torno de uma fogueira para se contar e se ouvir histórias foi fundador da espécie humana. Só assim pudemos aprender com a experiência de outras pessoas, com seus erros e acertos. Não apenas ouvindo sobre tecnicas de caçada, mas sim as HISTÓRIAS sobre estas caçadas.
Para quem gosta de biologia, os RPGs não surgiram do nada. Antes, evoluiram dos "wargames" que existiam então. Um pouco como os anfíbios (que descendem dos, diguemos, jogos de tabuleiro-peixes),
Os primeiros RPGs tinham uma proposta revolucionaria:
Dar voz aos personagens de uma batalha, em vez de tratá-los como simples peças.
Enquanto os Wargames colocaram a cabeça para fora do mar de jogos tradicionais de tabuleiros, os RPGs resolveram fincar pé de vez fora dos tabuleiros de então.
E foram tão bem sucedidos nisso que rapidamente se difundiram, se reproduziram e se espalharam.
Foi um pouco como a explosão cambriana (não estou sendo preciso em termos técnicos, mas uso a evolução como metáfora):
Uma explosão de espécies diferentes surgindo a uma velocidade devastadora. Os RPGs nas décadas de 70, 80 e 90 passaram exatamente por isso: Diferentes ondas criativas que traziam multidões de novos jogadores, autores e sistemas.
O que surgiu a seguir foi bastante Darwiniano: Só os sistemas mais bem "adaptados" sobreviveram e deixaram frutos e se reproduziram em suplementos ou jogos similares.
-Cthullhu e suas crias são como insetos loucos: Estão lá desde o começo, em todas as áreas possíveis e fazendo isso com competência impressionante.
-O Gurps quase se extinguiu. Mesmo bastante adaptável, não conseguiu se reproduzir na velocidade adequada, formando novos jogadores que se identificassem, e, apesar de ainda existir, ele é quase um "Velocerapor", atacando em conjunto várias ´possibilidades, mas individualmente fracos (desculpem a franqueza). Ainda está no páreo, mas longe de ter a larga vantagem de mercado que já teve um dia.
-Cyberpunk 2020, ou mesmo nacionais como Corporação Demos, se extinguiram totalmente. E só fósseis de livros podem ser encontrados após "escavações na poeira" nos sebos pelo mundo. Alguns, nem assim.
-Dungeons e Dragons, é um Tiranossauro Rex: Assusta pelo tamanho, atrai multidões de curiosos, mas carece de certo "jogo de cintura" para se manter (ou seja, seu excepcional poder muscular de financiamento faz com que o sistema tenha de alimentar muita "massa" muscular e cerebral para se manter.
As diferentes tentativas de mudança podem ser sua salvação, mas podem ser sua ruína: Antes de se estabelecerem em um nicho, saem caçando novos compradores, o que pode extinguir sua fonte de alimento: Cedo ou tarde os compradores potenciais do jogo podem ficar com o saco cheio e migrar para outros sistemas.
Não falo nenhuma novidade aqui. Tanto que os editores estão pedindo aos JOGADORES para dizer o que eles querem na 5th edição (ou, como comentei em outro post, "Não sabemos mais fazer RPG, por gentileza, nos ensinem novamente").
Os fãs de "Old Dragon" ou de "Pathfinder" apontam a possibilidade de que algo em Dungeons tenha se perdido pelo caminho. Mas isso é algo que no momento é impossível se afirmar com certeza.
-"Vampiro" e seus suplementos: No meu entender, fizeram algo similar aos proto-mamíferos: Enquanto a força dos RPGs até então existia no poder de fogo das respectivas "Regras" (ou, como se diz, mais nos "rule-plays" mais do que nos "role-plays"), o Vampiro fez algo inovador (não foi o unico, mas foi o melhor sucedido até então):
Investiu na habilidade criativa. Em termos evolutivos do RPG, foi o primeiro a ter um "telencefalo" altamente desenvolvido" em larga escala de popularidade. A adaptação que Vampiro, A Máscara permitia era a de melhor comunicação e interrelação entre os jogadores na construção de uma história, não de vencer um "mosntro da semana" qualquer. Isso permitiu que o RPG passasse a respirar ares mais perfumados, diguemos assim, e não ser mais (tanto) um "clube da cueca. Vulgo, garotas adoram vampiros, e ter mulheres nas mesas trouxe nosos horizontes para o jogo.
Uma coisa interessante: Os livros ressaltavam não mais o "Mestre" como figura organizadora, mas o "Narrador".
É curioso que, algumas vezes, saibamos qual foi a origem de um jogador só de ouvir ele se referir ao mestre como "mestre" ou "narrador" (sou velho, então uso Mestre, mesmo).
Essa inovação trazia um problema de base: A maior parte dos jogadores acabava por fazer "supers" com vampiros, já que a "sociabilidade" do jogo pecava por regras mais bem boladas, e com o tempo (ainda hoje) a interpretação foi semi-abandonada (com TODAS as ressalvas aqui, falo das queixas que os próprios jogadores de vampiro as vezes trazem). O sistema foi reformulado, mas, apesr de ser melhor hoje em dia (opinião pessoal, discordem se quiserem) , talvez não encontre mais nichos para dominar o mundo, diguemos assim, como já dominou.
-Neste ponto interessante se pensar a simbiose entre alguns RPGs e os Card Games. Não são apenas os CGs um "galho novo" na arvore da família, como alimentam, com benefícios a ambos os lados, o interesse por RPGs (não sendo os parasitas que alguns previam na decada de 90). Da mesma forma, os jogos de computador tem relações de benefício mútuo com o RPG "de mesa". Live-actions, filmes, musicas e seriados (como True Blood, Galatica e Leverage), alias, fazem parte, todos, do ecossistema cultural da qual o RPG é uma parte. O "DNA" dos RPGs alternativos está ligado aos RPGs tradicionais, e mesmo aos war games. Cada qual ocupando um nicho de mercado de necessidades.
E aí chegamos nos "Indies".
Antes: pessoalmente eu prefiro o termo "alternativos", "velharia" ou "velharia alternativa", mas isso é pomto para outra discussão.
Seguindo: O que os "alternativos" estão conseguindo fazer, me parece, é uma nova revolução na "fauna" do RPG.
De todas as doideras, a mais promissora é a forma de se jogar RPG "sem mestre" (narradores acabam sendo todos os participantes). Tão grandes essas modificações, que talvez nem mesmo possamos chamar da mesma espécie. Para mim, RPgs "alternativos" estão se aproximando de "trans-RPGs", ou algo que está indo além do que os RPGs, inicialmente, se propunham.
Quando vejo o que um FIASCO pode fazer (positivamente) com uma mesa, um "Happy Birthday Robot", um "Dust Devils", ou um "Shotgun Diaries", minha impressão é a de estar observando uma espécie totalmente nova.
Com um tipo de adaptação diferente, que permite ao RPG ir aonde um jogo de computador não pode.
E talvez esse seja o futuro. em vez de se tentar competir com um "Jogo de Computador Dente de Sabre" e investindo em regras de combate pela "carne fresca" dos jogadores, a solução é tornar o RPG algo mais "adaptável", criativo, social.
Talvez seja hora de aprendermos a sair da masmorra e suas sombras, e dar uma olhada sobno que mais o RPG tem a nos oferecer.
Ainda somos os mesmos homo sapiens sentados em roda para contar/ ouvir histórias e criar lendas.
E é a conversa o que importa, e não se a luz vem de uma fogueira ou de um pequeno monolito azul ligado em uma tomada.
Se fosse investir em algo, investiria nos alternativos como candidatos mais promissores a "dominar" o mundo nas próximas décadas.
Só podemos ser humanos quando podemos compartilhar experiências. Reais ou imaginárias.
E explorar formas diversas de compartilhar experiencias só pode nos fazer mais humanos.
Brega Presley
Sobre Old Drgon e PathFinder, explico, o que quero dizer é que o fato dos jogadores de Dungeons estarem optando por usar as regras antigas, mesmo os jogadores mais novos, e haver um crescente interesse em pathfinder, pode indicar que Dungeons 4th edição podem ter sido um mau passos.
ResponderExcluirUsando a analogia, se especializou demais e agora que o ambiente (o tipo de jogadores "na média) mudou, DeD parece estar um pouquinho atolado.
A quantidade de investimento jogada para o sistema é alta, mas exige um retorno financeiro ainda mais alto. Vamos ver o que acontece, de qualquer modo. Resta torcer que a 5th funcione.
Foi mal, mas acho uma loucura acreditar em Darwinismo em entreterimento. Não acredito em evolução e sistemas melhores hojem em dia do que sistemas passados. Acredito sim em sistemas com propostas diferentes para diferentes tipos de jogos.
ResponderExcluirSem contar que em todos as formas midiáticas cada vez mais se ve a busca pelo passado. Não é a toa que o ganhador do Oscar esse ano foi "O Artista".
Edson, a diferença aqui é que cultura não é "Darwinismo", mas "neo-Lamarckismo" (longa discussão a ser feita com um copo de birra na mão, madrugada adentro).
ResponderExcluirO conceito básico é que a espécie humana, ao transmitir melhorias ocorridas "em vida" a "futuras gerações" (via cultura), "burla" a genética.
Vem daí o conceito de "memética" e os famosos "memes" (um termo criado por Richard Dawkins, que não sou fã, mas ele tem seus momentos).
Eu usei Darwin como metafora, e toda metáfora tem suas falhas.
O quis explicar foram os pontos fracos e fortes dos sistemas e como eles
"evoluem", se modificam, se adaptam.
Mas se formos usar Darwin, estritamente, há modelos pre-históricos que ainda funcionam, como tubarões. Darwinismo não entende que uma espécie "se extingue" por ter outra melhor, mas sim quando suas adaptações a levam a um beco sem saída.
Quanto ao "O Artista", o filme ganhou um nobel do cinema (vulgo, oscar, hehehe), por ser nostalgico.
ResponderExcluirMas "cinema mudo" é algo que foi extinto com o som.
Por sermos a única espécie "lamarckista" que existe (pelo menos aqui, no pálido ponto azul, vai saber em Betelguese), podemos reaproveitar com rapidez ideias e conceitos "extintos", re-digerindo-os.
Os "Old School" são uma mostra disso. O problema é deixar de entender que aquele modelo, histórico e que merece ser conhecido, deixou de ser jogado exatamente porque adaptações a novas necessidades precisaram ser feitas.
Como disse, papo cabeça para outra ocasião.
Abração.
Brega
Edson,
ResponderExcluirNo geral, no entanto, vou concordar contigo:
Usar Darwinismo é sempre uma opção arriscada como metáfora.
Abraços
Eu acredito sim em evolução no ramo dos rpgs(em sistemas claro), inclusive dentro de uma mesma proposta (vide storytelling e storyteller). Não acho que os "indies" vão dominar o mercado, porém por eles serem bem específicos eles serão capazes de agradar uma maior variedade de jogadores. O fato é que enquanto a empresa de Ded continuar metendo os pés pelas mãos, novos jogadores migrarão para os "indies" ou para os concorrentes (Pathfinder). E muitos jogadores de Storyteller e telling, por se interessarem mais por esse lado interpretativo do hobby com o tempo também acabam buscando coisas novas...
ResponderExcluirO que eu acho é que eles vão virar algo diferente, merecendo outra nomenclatura.
ResponderExcluirO que os caras conseguiram produzir com um Fiasco, ou a proposta de "Happy Birthday, Robot" (para citar apenas dois) é algo extremamente poderoso que, se conseguir se fixar como opção de mercado, tende a criar um novo tipo de jogo.
Talvez ainda se chame RPG, mas é um tipo de experiência bem diferente do modelo "Mestre + jogadores" diguemos, "normais".
O que não tira a graça dos RPGs "padrão" em si. Só aumenta o leque.
Brega,
ResponderExcluirVc respondeu pra mim duas vezes, mas eu acho que vc queria responder ao Diogo certo? Ah! Esses cabelos brancos, rsrsrssrs!!!!
Abs!!!
Pior que foi.
ResponderExcluirTou ficando zureta das idéias.
Diogo, onde lê-se "Edson", leia "Diogo".
ResponderExcluirBraços
Nada, eu entendi tudo. Não podem nem se dirigir diretamente a mim por aqui, repressão total! :D heheheh
ResponderExcluirNhé Nhé Nhé!
ResponderExcluirNada, Alzheimer anda pegando pesado aqui.
Braços.