Ok, pessoal, muitos RPGistas
talvez não saibam, mas a verdade é que EXISTEM OUTROS RPGs DE FANTASIA POR AÍ
ALÉM DO DUNGEONS AND DRAGONS!
Estou falando
de jogos e cenários interessantes e alternativos como EarthDawn, RuneQuest, Ars
Magica, Talislanta e outros.
Se você já
derrotou todos os monstros do Manual dos Monstros, se você conhece de cor todas
as magias do Livro do Jogador ou se você simplesmente não suporta mais rolar um
D20, os jogos que apresento nesta série de artigos oferecem boas rotas alternativas
para se entrar na masmorra, e outras para sair!
Irei analisar
uma dupla de RPGs fantásticos por vez. Eles estarão ligados por sua temática,
como jogos clássicos (e provavelmente fora de linha), jogos de fantasia
moderna, fantasia vitoriana (vaporpunk), “darkfantasy”, etc.
Começarei por
dois clássicos: RuneQuest e Pendragon.
RUNEQUEST
Junto com
Dungeons & Dragons, Traveller, Call of Cthulhu, Cyberpunk 2020 e outros
poucos jogos, RuneQuest é o que verdadeiramente pode-se chamar de clássico.
Trata-se do primeiro RPG de fantasia medieval com uma ambientação adulta,
realista, e o primeiro jogo a empregar um sistema de regras percentual, do qual
voltarei a falar.
Originalmente
publicado em 1978 pela editora Chaosium no formato de caixa, o jogo contém o
que podemos chamar de um sistema de regras de fantasia genérico, com o qual é
possível jogar campanhas em qualquer ambiente fantástico.
Primariamente
o cenário de RuneQuest é a Terra medieval, em especial a Europa, mas uma Terra
medieval onde, se o mestre quiser, criaturas fantásticas coabitam com a
humanidade e a magia não faz parte apenas do folclore.
A edição de
luxo do jogo vem com 5 livros, dados de dez e seis faces, um mapa da Europa
Fantástica e alguns folhetos auxiliares. O livro 1 é o Players Book (Livro dos
Jogadores), onde encontram-se as regras básicas do jogo, o sistema de combate e
o sistema de criação de personagem. O livro 2 é o Magic Book (Livro de Magia), contendo um
sistema de magia onde aparece pela primeira vez a possibilidade de o mago
alterar os componentes de um feitiço (duração, dano, alcance, etc.) e um
sistema de gasto de energia no lançamento de feitiços. O livro 3 é o GameMaster
Book (Livro do Mestre do Jogo), com informações sobre narração, criação de
aventuras, tabelas de encontros aleatórios e muitas outras informações úteis ao
trabalho do mestre. O livro 4 é o Creatures Book (Livro de Criaturas), onde são
descritas criaturas e raças fantásticas. Finalmente o livro 5, chamado Glorantha
Book (Livro de Glorantha), onde encontramos uma breve descrição do mundo de
Glorantha, um cenário de fantasia medieval alternativo para RuneQuest.
Muitos
aspectos se destacam em RuneQuest. Este jogo possui o que foi o primeiro
sistema de combate realista. Seu sistema de criação de personagens também
merece destaque; nele os personagens são criados de acordo com o tipo de
cultura a que pertencem (primitiva, nômade, bárbara ou civilizada) e
possivelmente este foi o primeiro sistema a empregar pontos, mais do que
rolamentos de dados, para a geração de atributos.
RuneQuest
exerceu uma influência muito grande no mercado quando foi lançado, o que pode
ser observado pelo número de imitadores que gerou, como o jogo SwordBearer.
Além disso, o jogo continuou a influenciar o mercado mesmo depois de ter saído
de linha (é isso mesmo, você dificilmente encontrará uma cópia dele), prova
disso é a linha de jogos da editora Chaosium, incluindo Call of Cthulhu,
Elric!, Pendragon e mais recentemente Nephilim, cujos jogos utilizam um sistema
padrão derivado de RuneQuest. RuneQuest também influenciou GURPS. Até mesmo
Vampiro: A Máscara menciona RuneQuest como inspiração.
PENDRAGON
Sem enrolação:
Pendragon é o melhor RPG de todos. Agora veja o porquê.
As campanhas
de Pendragon se passam na Inglaterra medieval no apogeu do reinado de Arthur
Pendragon. Aqui os jogadores assumem o papel de cavaleiros que um dia almejam
um lugar na tão cobiçada távola redonda. É possível jogar com outros tipos de
personagens, como mulheres guerreiras/cavaleiras e até mesmo magos (mas nem
pensar em Merlim!).
O primeiro
capítulo do jogo, intitulado “O que seu Personagem Sabe”, descreve o cenário de
uma maneira inovadora, criada para ilustrar dois pontos de vista diferentes
daquele período - uma visão idealizada e romântica, extraída da Literatura, e
uma visão realista, extraída da História. O primeiro ponto de vista aparece no
texto principal e fala sobre a história recente, personagens importantes e a
Cavalaria, enquanto o segundo ponto de vista é mostrado em quadros cinzas que
acompanham o texto principal; aqui encontram-se informações sobre a sociedade
feudal, suas castas sociais, costumes e leis não escritas.
Sendo um jogo
publicado pela editora Chaosium, escrito por um dos criadores de RuneQuest,
Greg Stafford, Pendragon utiliza um
sistema de regras semelhante ao de RuneQuest, exceto que ao invés de
percentagem você encontrará aqui um sistema baseado em d20, com regras de
combate e criação de personagem bastante originais e alteradas em relação a
RuneQuest.
Pendragon é
considerado por muitos como o jogo definitivo sobre a lenda do rei Arthur e os
cavaleiros da távola redonda. Ele retrata o tema no RPG de forma
irrepreensível.
Neste jogo o
sistema de regras e o cenário mesclam-se em harmonia, como acontece no RPG Star
Wars, no jogo The Whispering Vault e outros poucos exemplos: enquanto o jogo
transcorre, as regras tornam-se invisíveis, e quando finalmente aparecem,
aumentam a interação com o cenário e o mito. Um exemplo dessa interação entre
regras e cenário é o sistema de ideais e motivações, que quantifica em números
os traços de personalidade e paixões de um personagem: afinal, nas lendas, os
cavaleiros eram movidos por emoções profundas e suas ações eram geradas por
fortes traços de personalidade. Assim, quando necessário, um jogador saberá se
seu personagem deve agir impulsivamente, com misericórdia, com paixão e desejo
ou com castidade, ou ainda se seu personagem é materialista ou acredita em
coisas como feitiços pagãos e dragões. Com este sistema de ideais e motivações,
assuntos importantes para a época, como lealdade, hospitalidade, amor e ódio,
que em outros jogos teriam sua importância diminuída, têm um lugar garantido no
jogo, com influência no sistema de regras. (Em Pendragon, se um personagem
perder sua amada, pode vir a ficar louco como na literatura ou, em
contrapartida, pode ganhar benefícios nas regras quando estiver inspirado por
sua paixão.)
A importância
de Pendragon na indústria não se deve apenas a partes específicas e inovações,
mas também ao livro como um todo; sua qualidade em geral e seu aspecto
literário servem como inspiração e padrão de qualidade para muitos criadores de
jogos. Das partes específicas destaca-se o que talvez tenha sido o primeiro
vestígio de preocupação (objetiva e detalhada) com a personalidade dos
personagens, uma tendência firmada no mercado a partir de então.
Muitos jogos
que vieram depois de Pendragon demonstram claramente influências deste jogo,
enquanto outros o citam apenas como inspiração; dentre eles encontram-se Ars
Magica e, mais uma vez, Vampiro: A Máscara. (Mark Rein Ragen, criador de
Vampiro: A Máscara, citou numa entrevista dada à revista Dragão Dourado que
considera Greg Stafford, responsável por RuneQuest e Pendragon, um dos melhores
criadores de jogos. Em conversa privado comigo, chamou o sistema de regras e o
jogo como um todo de “poético”.)
Pendragon encontra-se em sua quinta edição em inglês (os
piratas de plantão podem achar em PDF.) e pode ser encontrado em lojas
especializadas, se você tiver sorte.
por Fábio Gullo
...
Pendragon é sensacional.
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