quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O que eu ganho jogando RPG?





Essa pergunta está na ponta da língua de muitas pessoas que preferem um dia de sol na praia ou uma roda de samba, uma noitada na discoteca ou um tarde de cachaça... Pô cara, o que tu ganha jogando RPG?...

Ao longo destes quase 20 anos jogando RPG me deparei com essa pergunta inúmeras vezes, algumas vezes aquele colega do trabalho, outras vezes familiares e amigos que não conheciam o hobby, na verdade muitos comentário depreciativos e preconceituosos sobre o jogo... mas esses comentários acabaram me colocando para pensar, além do deleite intelectual e da diversão o que eu ganhava jogando RPG? A resposta é MUITO!


Assim como muitos brasileiros tive um infância confortável e estudei meus primeiros anos em escola tradicional católica, depois do falecimento do meu pai fui obrigado a ir estudar em escolas públicas para completar meu segundo grau, e como muita gente sabe, não temos os melhores incentivos do mundo dentro de uma escola com poucos recursos, professores mal pagos e pouco estrutura, como bibliotecas e salas de vídeo, daí você acaba sendo forte candidato ao esquema do “abismo cultural”... neste momento entra a família e os amigos para ajudar a trazer um pouco de "luz" além do material didático da escola, mas e quando os outros também estão no seu nível cultural? Como aprender mais quando as pessoas a sua volta sabem tanto quanto você? Ou não estão em sintonia com seus interesses? Que motivos você tem para aprender mais e mais se os estímulos passam longe dos seus olhos e ouvidos? Bem... pra mim uma das respostas foi o RPG!


No primeiro grau (hoje ensino fundamental) nunca fui um aluno inspirado, sempre achei a escola um saco! e as aulas enfadonhas e irritantes, mas um dia (lá pelo ano 1989) acabei topando com um amigo que me apresentou um livro diferente chamado A Cidadela do Caos, de repente “um livro” me interessava, as aulas de português com interpretação de texto e ortografia eram importantes pra mim, as de história e geografia então nem se fala! Sempre vinha aquela pergunta na minha cabeça, como ser mais esperto que o mestre de jogo? Como saber solucionar enigmas e quebra-cabeças se eu não estudasse mais e adquirisse o conhecimento para ser um jogador mais “esperto”?

A primeira indicação sobre conteúdo acadêmico que eu vi em jogo de RPG foi na apresentação do livro GURPS Fantasy, na época meu segundo jogo de RPG como mestre, eu estava na casa dos 16 anos e dentro daquele livro fantástico eles falavam que aquele jogo havia sido escrito com base em muito estudo sério, livros de história, cálculos matemáticos, pesquisas e mais pesquisas para que o universo sub-criado fosse perfeito para jogadores e mestres, derrepente eu entendi que não era só uma abstração maluca saída da cabeça de um escritor, o conhecimento adquirido para produção daquele livro podia ser aprendido por mim, assim como foi para os criadores do jogo.

 
Na década de 90 a Devir acabava de trazer o Vampire para o Brasil, eu com 18 ou 17 anos (não lembro) ganhei o meu de uma tia muito querida e fiquei muito interessado no tema vampiro, mas estudar sobre coisas naquela época dependia de uma boa biblioteca ou amigos com mais cultura que você meu caro, nada de Internet, foi então que um colega da saudosa Associação Santista de RPG me falou sobre Anne Rice e suas crônicas vampirescas... eu fiquei embasbacado! Como assim existia um universo sobre vampiros sendo narrado á anos eu não conhecia? Pouco depois de descobrir as crônicas vampirescas o filme Entrevista com Vampiro estreou nos cinemas, eu assim como milhares de jogadores de Vampire na época sentamos na frente da telona aturdidos com aquela beleza gótica de tirar o fôlego (fora o Antônio Bandeiras é claro!). 
Logo em seguida alguém me falou que a camarilha era como a intriga de corte apresentada no clássico da literatura mundial o Príncipe de Maquiavel, Maqkjekjekj o quê? E Lá fui eu ler o Príncipe. 

Já aqui no Rio fui jogar RPG, na verdade Live Action, com o pessoal do Rio By Night, além da maravilhosa compania de amigos que mantenho até hoje, tive a oportunidade de jogar outros lives, como Ao Vencedor as Batatas, Live criado e coordenado pelo grupo O Clan e inspirado em Castelo Falkenstein (um dos meus RPGs favoritos) e lá fiu eu lêr O Cortiço e Aluísio Azevedo pois meu personagem era o médico boêmio que tentava ganhar uma vaga na expedição de Pedro 2 (já tema do Live).
 
Não é de hoje que os Nerds são chamados de cabeções, e realmente, cabeção por que? Porque nós acabamos juntando uma quantidade tão absurda de informação na “cachola” que sempre temos um comentário inteligente a fazer ou uma anedota histórica para lembrar, temos a capacidade cognitiva e associativa muito desenvolvida pelas experiências em mesa, acabamos adquirindo um pouco daquela “malandragem” tão necessária nos dias de hoje para evitar encrencas sem arriscar nossas vidas em um noitada ou numa briga urbana sem sentido, em eventos Nerds que reunem milhares de jogadores não encontramos "um" caso de violência e em uma única partida de futebol  num estádio temos dezenas de feridos e até mortos, ou seja, o RPG na sua grande maioria (sempre existem as exceções é claro) é jogador por jovens, crianças, homens e mulheres de bem.

Mesmo depois de burro velho o RPG continua estimulando minha curisosidade, recentemente o amigo Luciano “Cthulhu” Gihel, organizador do blog www.mundotentacular.blogspot.com organizou o primeiro live-action de Call of Cthulhu do Rio, nele eu fui obrigado e estudar os grandes ilusionistas das déadas de 20 e 30 do mundo para interpretar meu personagem, um ilusionista no estilo Houdine de 1933, no processo me apaixonei por mágica e hoje sei fazer um monte de truques bem maneiros sem falar no conhecimento adquirido no processo sobre a história do ilusionismo e suas implicações sociais e culturais, minha esposa hoje é fã de uma atriz do cinema mudo da década de 30 chama Luise Brooks graças a esse mesmo live. 


Essa é mais uma daqueles experiências que não podem ser explicadas, devem ser vividas pára que o leitor tenha uma pequena noção de como o RPG, de uma maneira geral, aumenta seu interesse por quase tudo, permite que você desenvolva um senso crítico muito mais aguçado além de ampliar sua cultura geral a um nível extraordinário (você aprende mesmo sem perceber!).


Muitos de nós RPGistas não paramos para pensar em quanto o RPG nos amadureceu junto é claro com as experiências da vida cotidiana os conselhos dos nossos pais e amigos e as próprias experiências reais como desafetos e amores, o RPG só aumenta o leque e em muitos casos é imperativo na formação de um personalidade mais ativa e criativa ajuda criar uma postura de liderança implicar na percepção do amor fraternal só encontrado entre atletas de uma mesma equipe, amigos de longa data ou parentes.


Em resumo, jogar RPG além de ser um experiência extremante divertida e saudável ainda pode levar você por caminhos que você nem imagina... quando a vida cotidiana parece enfadonha e sem graça, os jogos de RPG jogam no seu colo motivos para pensar, ser criativo e compartilhar horas de diversão com novos e velhos amigos. 

Para finalizar pense, meu filho... se você não joga RPG e mora no Rio de Janeiro VENHA JOGAR CONOSCO no SDM, se você joga e anda meio parado... ACORDA CRIANÇA! JUNTA UM GRUPO DE AMIGOS E JOGA! Porque jogar RPG é muito bom!


Espero que todos gostem e fiquem com Deus!


Luciano Mota “Tolkien” Bastos

17 comentários:

  1. Um grande "testemunho" sobre o RPG, roubando o termo daqueles religiosos ignorantes que adoram nos trollar. Minha experiência com o RPG é parecida com a sua, mas infelizmente não consegui fazer que minha mulher jogasse também.

    Mas tem a história de dois primos meus, que é um exemplo do efeito benéfico do RPG. Eles tiveram basicamente as mesmíssimas criação, amizades e influências. A única diferença é que um deles jogava no nosso grupo. Já o que não jogava, se afundou nas drogas. Por isso, eu tenho a convicção de dizer que foi o RPG que não deixou meu primo cair na vida torta também.

    ResponderExcluir
  2. EXCELENTE MATERIAL DE ESTUDO E REFERÊNCIA!
    E olhe que até hoje só joguei duas vezes RPG.

    Parabéns Luciano!

    Edson Fonseca

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Edson! Fica aqui o convite para jogar uma terceira, quarta,quinta... vez! :-)

      Excluir
  3. Cara... a única coisa que me resta a dizer é: Que bonito! :D Sério, eu fiquei sem palavras. Aposto que hoje você não quer mais "ganhar do mestre" não é? É aquela fase da nossa vida de RPGista que realmente descobrimos um novo objetivo do jogo: contar histórias memoráveis. Deixamos de lado o roll-playing game e abraçamos o role-playing game ou o research-playing game, hehe.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É isso aí Bolton! Hoje eu quero colaborar com ele e com a história! Todos os "contras" caíram por terra e a meta é diversão!

      Excluir
  4. Parabéns pelo texto...o RPG também teve um efeito positivo na minha, influenciando o meu jeito de ser e pensar, tornando-me uma pessoa mais crítica e criativa, dentre tantos outros benefícios...

    Continuem com o excelente trabalho e sucesso decisivos a todos!

    ResponderExcluir
  5. Valeu meu xará! Grande matéria.

    RPG e cultura sempre caminharam de mãos dadas. Estou para ver um entretenimento mais inteligente e que estimule a criatividade, curiosidade e imaginação. Isso sem falar em companherismo e interação.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Luciano! Suas mesas de Cthulhu e sua iniciativa muito bem sucedida no Live continuam me inspirando! Parabéns á você! :-)

      Excluir
  6. Muito obrigado a todos! É bom ver que compartilhamos idéias e infulências positivas com nossas experiências com o Hobby!

    Grande abraço a todos!

    Luciano Mota "Tolkien" Bastos

    ResponderExcluir
  7. Cara, se eu disser que quase chorei alguém acredita? Não, serio foi simplsmente lindo o que vc escreveu, na minha opinião é um dos melhores artigos falando sobre o nossa amado jogo que já li. Realmente é muito bom, vc fez algo que eu ainda não tinha conseguido: falar do RPG de forma a nã parecer simplista e clichê. Parabéns pelo texto brilhante cara!

    PS: o texto ficou tão bom que vou usa-lo para apresentar o RPG a um amigo que to tentando convencer a jogar.

    -Lukas Darko

    ResponderExcluir
  8. Gostei muito do relato, alem é claro da proposta sempre presente de reflexão.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É Huan, a vida ta tão corrida que não paramos para uma reflexão mesmo! Obrigado!

      Excluir
  9. Luciano, um texto impressionante. Me identifiquei muito com o que você escreveu e fui tomado de um saudosismo enorme lembrando de quando conheci o RPG e de como ele me ajudou a ser quem sou hoje.

    Acho que mais do que parabeniza-lo por ter escrito, o correto mesmo é agradecer pela oportunidade de ler o seu texto.
    Obrigado cara.
    Du Marques.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Du! Importante é ter pessoas como vcs para ler! Obrigado!

      Excluir
  10. Parabéns pelo texto Luciano.

    Seu relato parece um flashback de todos nós que já trilhamos esse caminho faz tempo, e ao mesmo tempo um motivador FODA para os curiosos jogarem RPG

    ResponderExcluir