segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Trilogia "Barney, a Besta": Terceiro (e último) texto sobre o Tema

O terceiro texto é do Rooney Souza. Também reproduzido com autorização.
Esse é o último texto com a temática, senão a gente fica monotemático demais.

MAS, como o texto dele ficou legal, vou me dar ao luxo uma vez mais.

Abraços!

"Londres, 15 de janeiro de 1933.

John ao folhear monotonamente, como todos os dias, a seção do horóscopo do Times se deparara com o singular conselho aos nativos de Peixes: que evitassem ao máximo fortes emoções ao longo do dia. Não fosse triste e desolador momento em que estava vivendo daria gargalhadas ou ao menos esboçaria um sorriso. Mas não, já eram quase onze meses que sua vida se transformara totalmente ao receber a vultosa herança do seu tio, o Dr. Wilson. De pobretão passou a ser dono de uma bela mansão londrina e de todos os seus caros pertences. Em um mundo mergulhado em dívidas vislumbrara a chance de poder casar com sua eterna namorada de infância, Tatiana, e com ela constituir uma linda e saudável família. Entretanto, como dizem “alegria de pobre dura pouco”.

Há nove meses atrás, em uma tarde chuvosa Tatiana esbarrara em um grande e empoeirado tomo esquecido no há muito abandonado sótão, escrito com uma caligrafia rebuscada e em alguma língua que se assemelhava ao latim onde dava para entender o título como “Barnerum Monstrum”. Trouxera a relíquia com uma mancha de sangue exatamente o se lia o título, dissera a John que espetara o polegar em um prego solto no cômodo fechado. Dali em diante, o humor dela se alterou profundamente, na mesma proporção com que John se viu compelido a estudar aquele tomo e desvendar os seus segredos.

Passados dois meses as brigas conjugais eram constantes e o único alívio para John era a disciplina de Latim na University of London, na qual fora aceito como ouvinte após garantir a reforma da biblioteca do pavilhão central. Passava mais de oito horas por dia na universidade, ávido pelo progresso em aprender a língua dos antigos romanos. Ficara muito contente quando foi convidado a participar do grupo de estudo em Latim Avançado I. A sua determinação e força de vontade, assim como o seu grande progresso na língua de Cícero o faziam alvo de inveja e admiração por parte de alguns colegas veteranos, dentre eles a bela e insidiosa Miranda.

Nunca se dedicara com afinco aos estudos, mas querer desvendar os conhecimentos daquele livro o fizeram despertar para a sua verdadeira vocação, já desejava inclusive se matricular como aluno regular do curso de línguas antigas quando o próximo semestre começasse. Enquanto isso, Tatiana se recusava a exercer a sua feminilidade e seus “deveres” conjugais, passava o dia enclausurada em um quarto como uma verdadeira pária da sociedade, discutia por qualquer coisa com John, o humilhava. Não era surpresa para ninguém que Miranda flertava com John, mas, além disso, ela o incentivava a estudar latim, se interessava em ler o Tomo Antigo com ele entre uma louca transa e uma aula na universidade. Como todo adúltero de primeira viagem sabe, John teve suas traições descobertas por Tatiana, que o abandonou sem nunca dizer para onde ia.

John ficou triste, mas o sexo selvagem proporcionado por Miranda e o progresso no entendimento dos segredos do livro praticamente o entorpeceram e o fizeram esquecer-se de seu amor juvenil.

O livro falava de um ser antigo dotado de enorme poder, cuja alcunha em árabe era Ba´hnaei, O Dançarino Púrpura. Além disso, descrevia a existência de um poderoso culto londrino que sequestrava e imolava crianças em homenagem à poderosa Besta. A criatura tendia a aceitar mais preferencialmente crianças como seus seguidores, pois em sua concepção cruel, nada mais depravado do que perverter a inocência infantil para atender aos seus sinistros e secretos desejos.

John ao mesmo tempo em que ficava excitado com as descobertas, passava a ter receio, pois seus sonhos eram povoados por sons sinistros, sons que se assemelhavam a antigas e inofensivas cantigas infantis, mas que servia para perturba-lo para o resto do dia. Se não fosse a persistência da sensual e fogosa Miranda em continuar o estudo ele teria queimado aquele maldito livro, mas como recusar algo àquela mulher que lhe proporcionara prazeres novos e indescritíveis?

Ao ler todo o livro o casal diletante tomou a infeliz iniciativa de conjurar o Dançarino Púrpura. A falta de familiaridade com o oculto proporcionou em uma grande frustração, pois nada ocorrera. John decidira interromper os estudos, ainda mais que Miranda desapareceu sem deixar pistas e levando o profano livro consigo. Descobriu mais tarde que Miranda nunca fora matriculada na universidade, se arrependeu por ter deixado Tatiana partir e entrou em uma profunda depressão.

Hoje John se esforçara em sair da cama e se decidiu a aceitar o pedido de seu amigo de infância Robert para ser um dos 8 padrinhos de seu casamento com Samantha. Só o aceitou pelo leve afã de poder esbarrar com Tatiana, já que esta era amiga do casal também, e tentar reatar a vida a dois. Contudo, no meio do caminho para a igreja cruzara com uma esquelética transeunte que lia as mãos dos londrinos, que sem titubear disse;
- O Dançarino atenderá a sua convocação no dia em que você e sete uniformizados estiverem juntos.

Ignorando a cigana, chegou à igreja e foi ocupar o seu assento ao lado dos outros padrinhos do casamento de Robert. Estar ali era um grande sacrifício, não ter o amor de Tatiana, a lascívia de Miranda e o bem estar do Tomo lhe eram um enorme pesar.

Entre sorrisos amarelos e cumprimentos secos para os outros padrinhos, observara que estavam todos com a mesma roupa, dos pés à cabeça, praticamente uniformizados. Neste exato momento lhe veio a cabeça a figura da zombeteira cigana e antes que pudesse raciocinar o significado disso ouviu uma terrível gargalhada e viu a cúpula da igreja vir abaixo. Em um instante um dia de felicidade e júbilo foi transformado no inferno na terra, O Dançarino Púrpura se manifestou para aquele que o convocara, mas não se preocupara em controlá-lo. O padre foi o primeiro a ser incinerado pelo estranho brilho que vinha da grande besta. As pessoas fugiam e as crianças estranhamente paravam e admiravam aquele ser, que não lhes fazia mal algum.

John correra o quanto pôde pelo parque fugindo do Dançarino que esmagava um a um os convidados ou incinerava com seu aterrorizante olhar. Quando tropeçou e viu que seria sua hora de ser esmagado, John acordara e vira que tudo não passava de um sonho. Em sua cama Miranda dormia docemente com os seios nus, indicando que mais uma vez tiveram uma noite de sexo selvagem. Mal sabia ele que ao pé da cama jazia um corpo feminino sem vida e ensanguentado abraçado firmemente ao Barnerum Monstrum"
(De Rooney Souza)



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