quinta-feira, 24 de abril de 2014

METALPUNK - FastPlay preview II - Notas sobre o Mega-apocalipse



Amigos, após termos postado aqui no SDM o conto introdutório do cenário de Metalpunk, continuamos com o texto que descreverá resumidamente o cenário na versão Fastplay, ou "Jogo Rápido", do RPG, a ser disponibilizada gratuitamente até o agosto em nossa fanpage:

https://www.facebook.com/metalpunk.rpg

Esperamos que gostem!


Notas Sobre o Mega-apocalipse

por Henrick Sheeley

Penso que deveria iniciar indicando o local e a data nos quais me encontro e talvez me apresentando, mas tenho motivos para não fazê-lo. Primeiro: desconheço a data precisa. Segundo: encontro-me peregrinando de conglomerado em conglomerado nos sertões congelados do hemisfério norte. E terceiro: minha identidade precisa ser mantida em segredo, pois sou um desertor, traidor de minha fé.

Às vezes penso na ignorância dos meus contemporâneos. Não falo do analfabetismo – generalizado –, da intolerância e de fundamentalismos de toda sorte. Falo da falta de conhecimentos, conhecimentos enterrados nos escombros das civilizações pré-apocalípticas. Em que pese o estado de ignorância, a muitos motiva e consola uma nostalgia e uma curiosidade acentuadas sobre o passado. Alguns ainda discutem se a data que aparece no noticiário do LondonNews, 2088 d.C., está correta. Outros vão mais fundo e desejam saber como era a vida antes do Mega-apocalipse. Finalmente há aqueles que desejam saber o que provocou o Mega-apocalipse.

O que se sabe com certeza é que nas primeiras décadas do século XXI “algo” ocorreu ao planeta, transformando-o num indeciso inferno de fogo e gelo. Enquanto o hemisfério sul virou uma massa ardente de selvas tropicais e terreno árido esbatido pelo sol, o hemisfério norte congelou, transformando-se num verdadeiro Ártico sem fronteiras. Talvez a causa tenha sido o aquecimento global, a inversão dos pólos magnéticos, a inclinação do eixo do planeta, uma superarma desconhecida, o há muito temido apocalipse nuclear – eu jamais as encontrei, mas há os que afirmem ter avistado imensas cicatrizes atômicas nos sertões. 


O fato é que a nova Idade de Fogo e Gelo sobreveio, deixando vivos apenas os mais fortes dentre os fortes, aqueles conhecidos hoje como supersobreviventes. Porém mesmo esses seres humanos extraordinários não puderam, em sua maioria, resistir ao que se seguiu poucos anos depois: a Peste promovida pelo megavírus, uma implacável virose que, ao se tornar uma pandemia em escala mundial, exterminou seus hospedeiros em fulminantes ataques de raiva primeiro assassina, depois suicida. Até onde se sabe, não houve quem escapasse ao contágio. Houve, contudo, quem se descobrisse imune. Estes sofreram, no período que se seguiu a este derradeiro armagedom, dolorosas mutações genéticas. Assim surgiram os psiônicos e os primeiros mutantes férteis que então deram origem a espécies próprias, como os morlochs, habitantes dos subterrâneos; os enormes juggernauts; as aberrações de múltiplos braços conhecidas como mantis; os poderosos psiônicos chamados mentalos; os videntes ciclopes e, finalmente, os descendentes diretos dos supersobreviventes, os megasobreviventes – exoapocalípticos brutais, capazes de sobreviver aos perigos do mundo pós-apocalíptico. 


Dentre esses perigos, destacou-se a vinda maciça – por meio de portais psíquicos inadvertidamente abertos por planarcinéticos de primeira viagem – de seres dos reinos psíquicos, ou psicoreinos, os chamados planares; também a ocorrência das primeiras incursões de tribos bárbaras germânicas e asiáticas sobre os conglomerados europeus, demais cidades-estados e pequenos países ditos civilizados; e o aparecimento, primeiro no Novo Reino Unido, depois no Velho Mundo e atualmente no Novo Mundo, a partir da nova cultura medievo-marcial surgida em toda parte devido ao culto exoapocalíptico do mais forte – enquanto apenas os bravos se lançam ao combate singular, um covarde qualquer pode disparar uma arma de fogo –, das Novas Ordens de Cavalaria, como os Steppenwolves (Reich), a Ordem da Torre e Espada e os Sebastianos (Lusitânia), a Ordem do Cardo-selvagem (Nova Escócia), os Cavaleiros da Concórdia (Castela), os Hell Angels (REINI – República dos Estados Independentes de Nova Iorque) e os Easy Riders (Estados Anárquicos e CCP – Conglomerado da Costa do Pacífico).

O pouco que se pode dizer com certeza a respeito do Fim do Mundo, ao cabo, foi que se tratou do fim de um mundo, mas também do nascimento de outro. O Mega-apocalipse fora apenas um duro golpe para testar a capacidade da espécie humana em superar adversidades. O homo sapiens sapiens havia desaparecido, mas dera lugar a novas espécies, umas alienígenas, outras irmãs, estas coletivamente conhecidas como homo apocalipticus.

Em termos políticos, dos escombros ergueu-se uma nova religião, autoproclamada quarta fé abraâmica, fundada na fusão de tradições mais antigas como o Cristianismo e o judaísmo. Os membros dessa religião, conhecida somente como Irmandade, chamaram a si mesmos de teurgos e lideraram os exoapocalípticos na reconstrução de suas vidas sobre as ruínas das antigas cidades do Velho Mundo, os chamados conglomerados. Outros governos, uns mais, outros menos organizados, apareceram em esparsas regiões do globo. O resto: deserto.

Nos Anos Médios da Reforma – as três décadas posteriores ao retorno da vida nas grandes cidades no hemisfério norte, em especial Velho Mundo e norte do Novo Mundo – foram construídas as Catedrais – colossos góticos, símbolos do poder sobrenatural e moral corrupta da Irmandade. Também foram nesses anos que a religião começou realmente a impor sua ditadura sobre as populações dos conglomerados. Reforçando a já instalada Cultura do Combate Singular, promulgou-se a lei baseada num insondável dogma da religião, o qual proíbe o comércio, posse e uso de armas de fogo, o que só fez impulsionar a nova cultura de rinhas, duelos e sua contraparte política, os monstruosos espetáculos em arenas particulares e aqueles promovidos pela própria Irmandade como parte de sua política de pão e circo.

O pico da ditadura foi o surgimento da Inquisição, que passou a percorrer os conglomerados à caça de infiéis, hereges e psiônicos livres – o psionicismo além das fileiras da fé e do seu braço armado, os Cavaleiros Templários, tido como ilegal. O avanço da Inquisição sobre o resto do mundo serve, hoje, como justificativa ou como razão, dependendo do ponto de vista, para a expansão imperialista da Irmandade. Ouvem-se em toda parte rumores sobre Cruzadas continente adentro e invasões bem-sucedidas nas praias do Novo Mundo – os templários e seus exércitos de mortos-vivos reanimados por cronocinese espalhando-se pelo mundo como um ferimento em estado de necrose.

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