quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Traveller, um clássico do sci-fi - parte 1 - Apresentação!


Algumas vezes nos vemos procurando por algo novo no nosso hobby, e nos surpreendemos encontrando um sistema clássico, que apesar de ter tido várias edições, ainda possui a sua própria identidade.
Um desses sistemas, na minha opinião é o sistema Traveller, que possui uma proposta de ficção científica "hard", ou seja, sem uma tecnologia, poderes ou alienígenas muito absurdos.




A História do Sistema


A capa é simples e remete as capas originais.
Criado em 1977, apenas alguns anos após a publicação do D&D, o sistema passou por nada menos de que cinco edições, a última (Traveller 5 ou T5) por financiamento coletivo do autor Marc Miller, que terminou em Julho de 2012, tendo sido lançada em xx de mês de 201x. Infelizmente, a quinta edição prometeu muito e entregou pouco, tendo frustrado grande parte dos fãs de Traveller.
Felizmente, os direitos de publicação sobre material do cenário foram amplamente utilizados pela Steve Jackson Games numa grande quantidade de suplementos para GURPS terceira edição (em livros valorizados até mesmo pelos jogadores do Traveller em sua versão clássica).
A versão mais moderna, suportada e amplamente utilizada do jogo é a da Mongoose publishing, conhecida como "Mongoose Traveller". Teve muito sucesso e se tornou um dos sistemas usados pela editora em outros produtos. É a única acessível no momento em versão impressa, dado o fim do financiamento coletivo da quinta edição (pelo menos até onde eu pude me informar).
É essa a versão que escolhi para mestrar, após perder algum tempo pesquisando sobre o sistema. Eu queria algo que ainda fosse disponível no mercado, ao invés de ficar dependendo de livros raros. Essa edição foi lançada em 2007, sendo amplamente baseada na edição clássica do sistema, que é uma das mais aclamadas, sendo assim, o Mongoose Traveller é amplamente recomendado pelos fãs do sistema.

Apresentação e Conteúdo Geral 

 

A arte não é grande coisa.
O livro básico "Core Rulebook" é de diagramação simples, com papel comum, capa dura e possui apenas 192 páginas. A arte do livro não é o foco, sendo toda em preto e branco, e isso passa um clima de "RPG antigo" ao livro. Mas o livro aparenta boa qualidade e parece que sua durabilidade será boa.
O descuido com a arte e a apresentação pode levar algumas pessoas a rejeitarem o sistema. Mas, o que importa é o conteúdo, e o livro apesar de pequeno, aborda todos os aspectos de sistema do Traveller, e pouca coisa de cenário.
É surpreendente a quantidade de situações que um livro básico com apenas 192 páginas pode cobrir. Criação de personagens, perícias, aliens, combate, combate espacial, criação de sistemas e planetas, leis locais, comércio, e até mesmo poderes psíquicos são abordados no livro. A única coisa que sofre com essa abrangência é a descrição do cenário. Se você deseja jogar no Terceiro Império (o cenário padrão de Traveller), vai precisar de outros suplementos. Acho a decisão da Mongoose muito acertada, pois o cenário é imenso, e se fosse incluída muita coisa no livro básico, ele ficaria muito pesado. Além disso, o ambiente é tão vasto que você normalmente vai focar em um setor do espaço ou até mesmo sub-setor para desenrolar suas campanhas.
Mas para quem vai utilizar apenas as regras (ou buscar material online), é um sistema muito completo e funcional, em menos de 200 páginas, o que considero um feito extraordinário.

Criação de Personagens 

 

A criação de personagens no Traveller é algo único. Nunca experimentei algo tão incomum e divertido durante um processo que chega a ser até mesmo entediante em muitos outros sistemas.

 

 Atributos

 

No Traveller grande parte da geração de personagens é aleatória. Os atributos, por exemplo, são rolados aleatoriamente (2d6 seis vezes escolhendo onde cada valor vai). São seis atributos. Strength, Dexterity, Endurance, Intellect, Education e Social Standing (Força, Destreza, Vigor, Intelecto, Educação e Posição Social). Os modificadores de atributo tem valor baixo (de -2 para um atributo com valor 2, valor mínimo da rolagem, até +2 para 12, o valor máximo da rolagem). Assim sendo não existem personagens inicialmente inflacionados.
É possível que o valor de atributos variem, com bônus ou penalidades (devido ao envelhecimento ou acidentes!) durante as próximas fases da criação do personagem.

Mundo Natal

 

O próximo passo é escolher as características do mundo natal do seu personagem. Isso dita quais serão as habilidades básicas dele, ou o que ele aprendeu antes de iniciar o trabalho em qualquer carreira. O livro tem uma lista não muito extensa, mas boa o suficiente. 
Pobre ou rico, baixa ou alta tecnologia, mundos desérticos, industriais, etc... Cada uma dessas características está atrelada à uma perícia. O jogador escolhe duas características para seu mundo natal. Ele adquire essas características, e caso o valor do atributo Education seja alto, ele ganha perícias bônus, podendo iniciar com até 5 perícias.

Carreiras

 

Aqui começa o grande diferencial na criação dos personagens de Traveller. As Carreiras de Traveller são: Agent (Polícia ou Segurança), Army (Exército), Citizen (Cidadão), Drifter (Andarilho), Entertainer (Artista, Repórter, Ator, Atleta, etc), Marines (Fuzileiros Navais), Merchants (Mercadores), Navy (Marinha), Nobility (Nobreza), Rogue (Fora-da-lei), Scholar (Acadêmico) e Scouts (Batedores). Também existem os Psions (Pessoas com poderes mentais), mas é uma carreira opcional e se encontra no final do livro, separada das outras.
Cada uma das Carreiras possui ainda três "Assignments (Especializações)", o que dá uma ampla escolha ao jogador. Mas, em Traveller, não é suficiente escolher. Você tem que se qualificar para desfrutar de uma Carreira e seus benefícios. Essa qualificação é um teste de Atributo. Por exemplo, para ser um Agent, você precisa passar em um teste de INT 6+, o que significa rolar 2d6, somar o seu modificador de Intellect e ter um resultado total de pelo menos 6. Não é um teste difícil, mas em se tratando de dados, tudo pode acontecer.


Quando um personagem entra pela primeira vez na vida em uma Carreira, ele recebe seu treinamento básico, que consiste de receber 6 perícias em nível 0 (se o seu personagem não possui uma perícia ele rola com um modificador de -3). Ou seja, é muito bom possuir perícias em nível 0!
A evolução de um personagem em cada carreira é também aleatória! Você escolhe entre várias tabelas, uma ou duas vezes por período ("term" em inglês, que dura 4 anos), dependendo se você sobe ou não de posto naquela carreira. As possibilidades de evolução são em Atributos ou Perícias, você escolhe entre 3 tabelas, com direito à uma tabela de "advanced education", disponível para quem tem o Atributo Education 8+. Cada tabela explora uma faceta da carreira (Service skills, Personal advancent, entre outras). Assim você direciona o seu personagem.
Há também a possibilidade de ser expulso da carreira a qualquer momento. Falhando no "survival roll". Isso gera uma rolagem de "mishap", onde seu personagem sofre alguma consequência grave como por exemplo um ferimento, que resulta em perda de pontos de atributo, gerando despesas médicas. Estas despesas podem ser cobertas parcial ou totalmente por "patronos" do personagem.
Sobrevivendo na Carreira, o personagem também rola para um evento. Esse evento pode ser, por exemplo, a oportunidade de trair um companheiro para ganho pessoal ou ajudá-lo para que ele se torne um aliado. Ou mesmo ainda ter um "life event" e encontrar (ou perder) o amor de sua vida, ter um filho, perder alguém importante, entre muitas outras situações.
O que tudo isso faz em termos de jogo e criação de personagem é gerar um personagem completo, incluindo sua história. Explicar porque em um período como Mercador o personagem adquiriu a perícia Gunner (artilheiro) é um exercício que pode ser muito divertido. Como explicar o fato? Talvez tenha que ter se defendido de piratas? Talvez em uma emergência tenha usado as armas de sua nave para evitar a colisão com um asteroide, ou ainda ele apenas gostasse ou foi ordenado pelo capitão da nave a treinar, pois nunca se sabe quando essa habilidade poderia ser necessária.
Finalmente, a partir do quarto período o jogador deve rolar para saber se o seu personagem envelheceu. Isso pode gerar redução nos atributos. Existem drogas (relativamente caras) para diminuir o risco do envelhecimento.

Conexões


Toda vez que um personagem gera um evento que resulta em um aliado ou contato, outro jogador pode pedir para ter sido parte do evento em questão. Isso é muito interessante, pois o grupo assim tem uma coesão já no início do jogo. Os dois jogadores que participam dessa conexão também podem aumentar uma Perícia de sua escolha em 1 nível no final da criação, durante o processo de finalização.
Cada personagem pode fazer quantas conexões quiser, mas só ganha o benefício da perícia no máximo 2 vezes.

Benefícios

 

Ao final de cada Carreira, seja porque o jogador voluntariamente saiu ou foi expulso falhado no seu survival roll, o personagem recebe benefícios, decidindo se prefere dinheiro ou benefícios. Cada Carreira tem suas recompensas específicas. Nobres, por exemplo, recebem mais dinheiro. Marines tem uma chance maior de receber armas e outros equipamentos.
Os Drifters às vezes nem sequer conseguem receber dinheiro em uma rolagem e seus benefícios são ruins em comparação às outras Carreiras, mas a qualificação para Drifter é automática. Em comparação, o teste para ser Nobre é Social Standing 10+ (mas a qualificação é automática para quem tem Social Standing 10 ou maior).

Regras Opcionais

 

Com as regras opcionais, é possível morrer na criação do personagem.
Existem regras opcionais para gerar personagens por pontos, mas na minha opinião, ao usá-las,
você perde grande parte da proposta do sistema.
Também existe uma regra opcional para a morte de personagens durante a criação, que era uma das características mais conhecidas do sistema clássico do Traveller, e servia para controlar o número de períodos máximo que o personagem podia engajar em carreiras. Quanto mais períodos, mais arriscado era que o seu personagem morresse antes mesmo do jogo começar!
A Mongoose, sabiamente, em minha opinião, deixou essa regra como opcional, pois achei muito mais interessante a falha em uma carreira deixar uma consequência não-letal, que enriquece mais ainda a história do personagem.

Próxima Parte 

 

Na semana que vem contarei sobre como são as perícias, o combate, o cenário e outras partes importantes do Traveller. Até lá!

Saudações rpgísticas,
  Antônio "Wizard" Henning

2 comentários:

  1. Ah cara! Amei, demais mesmo! Sé esqueceu de dizer que é OGL, podendo ser traduzido por qualquer um! Só não pode usar o nome Traveller, claro.

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    1. Opa, muito bom saber desse detalhe! Muito bom saber disso, até para poder usar o sistema para alguns projetos.
      Valeu!

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