domingo, 18 de dezembro de 2011

HISTORIA DOS JOGOS DE RPG 2° Parte


HISTORIA DOS JOGOS DE RPG
Do Wargame ao live-action

Influências históricas e culturais
na sua construção.

2° Parte

Por Luciano Mota Bastos

Bem... mas como um tabuleiro de 8x8 quadrados com peças representando cavalos, reis, rainhas, bispos, torres e peões virou um complexo jogo de estratégia militar com peças de terreno, milhares de peça representando unidades e livros de regras que beiram os manuais de física quântica?
A história dos jogos de guerra (wargames) está intimamente ligada às atividades políticas e militares, já que as preocupações com conflitos em larga escala e guerras, sempre foi uma atribuição de pessoas com poder, governantes, reis, rainhas e líderes militares, presidentes etc.
A representação de forças opostas apresentada em um jogo de tabuleiro, como xadrez ou go, jamais poderia abranger todos os elementos de um conflito real, apesar das estratégias de ação e antecipação dos xadrez ou do go, assim como de outros jogos de tabuleiro, serem tão importantes quanto o conhecimento real do inimigo ou do campo de batalha, os wargames inseriram elementos realistas e bastante complexos que permitiram a extrapolação do tabuleiro em uma rica experiência de simulação estratégica bem mais realista.
A primeira referência que se conhece dos jogos de guerra ou simulações de batalhas data de 1780 (séc. XVIII), quando um nobre de nome Helwig, súdito do duque de Brunswick, inventou um jogo muito parecido com os modernos Wargames. As simulações de combate deste jogo se desenrolavam sobre um tabuleiro com 1666 quadrados coloridos de madeira que representavam diversos tipos de terreno real como colinas, montanhas, rios e planícies, como os terrenos que constituíam verdadeiros campos de batalha. Os jogadores usavam peças de madeira coloridas que representavam as unidades militares envolvidas no conflito, suas regras incluíam a movimentação por rodada dos exércitos sobre o tabuleiro num movimento entre os quadrados de madeira que representavam o terreno.
            Em 1795 (séc. XVIII) George Vinturinus, um estudioso de estratégia militar do ducado de dinamarquês de Schleswig, junto à fronteira com a Alemanha, desenvolveu uma versão mais completa do jogo criado por Helwig, usando como tabuleiro um mapa de uma área situada na região fronteiriça entre a França e a Bélgica.
            Os militares não tardaram a descobrir uma utilidade prática para esse jogo.
Obs.: Aqui existe uma divergência de relatos que vale a apena ser melhor explicada, uma das minhas fontes de pesquisa o “Os Melhores Jogos do Mundo O Livro dos Jogos, publicado pela editora Abril em 1978 afirma:
“Em 1824, um oficial do Exército Prussiano, Von Reisswitz publicou uma espécie de wargame bem mais sofisticado, que se destinava ao treinamento de oficiais nos estudos de estratégia militar”.
Mas o site jornalístico alemão Spiegel (http://www.spiegel.de/) afirma que o jogo de Reisswitz, na verdade de nome George Leopold Reiswitz, tratava-se de uma mesa, extremamente sofisticada para época, que foi dado como presente ao Rei da Prússia Friedrich Wilhelm III. em 1812 e de onde pude retirar as primeiras imagens realmente boas e impressionantes da mesa do wargame de Reiswitz, o sonho de todo “nerd wargamer”, as imagens são tão impressionantes que resolvi apresentá-las aqui, esse jogo bem mais complexo e mais próximo dos wargames modernos, na verdade considerado o pai dos wargames, é o jogo Kriegspiel.

 
Fig.10 - Jogo de guerra (Wargame): Usado como ferramenta de treinamento para técnicas estratégicas durante a Guerra Franco Prussiana, George Leopold Reiswitz projetou essa mesa de jogo, ele a deu de presente ao Rei da Prússia Friedrich Wilhelm III. em 1812. (tradução do alemão)


 
Fig.11 - Acessórios do jogo de guerra: Dados e peças de jogo (superior esquerdo) foram importantes ferramentas de simulação do jogo de Reisswitz. (tradução do alemão)


 
Fig.12 - Jogo de guerra: Quando fechada, a mesa de jogo se parece com uma peça de mobiliário como uma cômoda o jogo permanece no Palácio de Charlottenburg, no piso térreo da Ala Nova. (tradução do alemão)


Fig.13 - Campos de batalha como esse eram montados sobre uma grade de quadrados numerados e sobre eles peças representando montanhas, colinas, prados, florestas, aldeias, rios, assim como eles estão apresentados aqui, reparem os barcos com unidades.
 
Fig.14 - A versão impressa das regras do jogo de Reiswitz

 
Fig.15 - A versão Inglesa do jogo de Reiswitz, "The Game of War"
foi fabricado entre 1887 e 1894 pela R H Stevens & Co Ltd e efetivamente usado para treinamento militar.


Fig.16 - Detalhe do "The Game of War"

A princípio o Wargame de Reiswitz foi recebido com ceticismo e até mesmo ridicularizado por alguns oficiais prussianos, mas posteriormente o jogo despertou enorme interesse e um grande número de adeptos, isso serviu como ponto de partida para os primeiros clubes de wargame civis e as primeiras revistas e periódicos destinados a esse tipo de jogo.

Os Clubes de Wargames
É importante ressaltar nesse ponto a importância desse movimento de transição dos wargames como ferramenta estratégica militar, para o público civil formado por entusiastas e pessoas comuns que viram no jogo uma forma de lazer e entretenimento, também importante perceber que a estrutura dos clubes de guerra formados nesse período são as bases para os clubes de jogos posteriores e a formação dos grupos maiores de entusiastas e a associações de clubes de jogos, para entender melhor como se deu esse propósito vamos ver sua história.

 
Fig.17 – Prédio de Oxford no período de Fred T. Jane.

O Primeiro Clube de Jogos de Guerra não militar registrado data de 1898 e foi criado por Fred T. Jane (entusiasta das batalhas navais), localizava-se em Oxford Inglaterra. Fred chegou a escrever regras para batalhas ficcionais e combates históricos, esse jogo ficou conhecido como Jane's Fighting Ships. A simples formação desse novo tipo de clube tem um papel singular da nossa história a caminho dos jogos de PRG, aqui começam a se delinear as bases dos “wargame-clubs”, como a International Federation of Wargaming e a Castle & Crusade Society (braço da IFW) grupo ao qual eram associados os homens e as mentes das quais surgiram o Chainmail e posteriormente o D&D, o primeiro RPG do mundo.
A Colaboração de Gênios
Em nossa peculiar jornada até os jogos de RPG vamos encontrar figuras ilustres, que foram importantes da popularização e desenvolvimento dos wargames, dentre as quais podemos citar duas das mais proeminentes, que nos presentearam com uma contribuição real ao hobby, os escritores Robert Louis Balfour Stevenson e H. G. Wells.

 Fig.18 - Robert Louis Balflour Stevenson 1850-1894

          O escritor, jornalista e engenheiro, Robert L. B. Stevenson é mais conhecido no mundo por sua contribuição ao campo da literatura como os famosos trabalhos, A Ilha do Tesouro e o Médico e o Monstro, mas o que poucas pessoas sabem é que ele também foi um importante colaborador para o hobby dos Wargames lançando na revista Scribner's Magazine (uma revista ilustrada que não era um periódico do hobby) o primeiro conjunto de regras para combate de miniatura, dando inicio assim a era dos wargames.


Fig.19 - Capa da 1° edição da Scribner´s Magazine e a publicação de 1898 do Stevenson at Play


 
Esse conjunto de regras que já vinha sendo jogado por Stevenson desde 1880 foi publicado em 1898 por Lloyd Osbourne com o nome “Stevenson at Play” e é a primeira publicação do gênero e  já apresentava uso das miniaturas.


 Fig.20 - H.G. Wells 1866 - 1946


Entusiasta dos jogos de Guerra, e pacifista (curioso não?), H.G. Wells, escritor conhecido por obras como, A Máquina do Tempo 1895, A Ilha do Dr. Moreau 1896, O Homem Invisível 1897, A Guerra dos Mundos 1898, O Alimento dos Deuses 1904, Os Dias do Cometa, entre outros, publicou um manual de regras de wargame que foi responsável em parte pela popularização dos jogos de guerra em sua época e que é considerado até hoje como a bíblia dos jogos de guerra o Little Wars, mas antes mesmo do famoso Little Wars, Wells publicou o seu, Floor Games (imagem abaixo).

 Fig.21 - Capa do Floor Games de G.H. Wells - 1911

 


Mas foi o Little Wars que permitiu ao publico não só jogar, mas como montar uma coleção de miniaturas e os cenários de guerra, o Jogo de Wells tinha regras simples e permitia a participação de toda a família, abaixo temos uma cópia de reimpressão moderna do jogo, com introdução feita por “quase desconhecido” chamado Gary Gygax, na segunda capa (á esquerda), temos apresentação feita por ninguém menos que Isaac Asimov.

 
Fig.22-23 - O Little Wars de 1913: e seu título original e longo! - Little Wars: a game for boys from twelve years of age to one hundred and fifty and for that more intelligent sort of girl who likes boys' games and books.

Que em português fica mais ou menos assim: Little Wars: O jogo para garotos dos 12 aos 150 anos e para aquele tipo mais inteligente de garotas e gostam dos livros e dos jogos dos garotos.

Fig.24 - H.G. Wells jogando seu Little Wras


            Na segunda guerra mundial os jogos de guerra tornaram-se tão populares na Alemanha que passaram a ser usados sistematicamente nas simulações de operações táticas e estratégicas.





2 comentários:

  1. Traduzi, um tempão atrás, um texto sobre o tema aqui no Blog, mas só indico como leitura complementar, porque, pessoalmente, achei o do Luciano mais completo.
    http://saiadamasmorra.blogspot.com/2009/06/historia-do-rpg-parte-1.html

    Se algum dia traduzi a segunda parte, sinceramente não achei. Braços.

    Brega

    ResponderExcluir
  2. É, na verdade Brega o material tem muito de pesquisa a moda antiga, ou seja, fiz a consulta em livros como, Heroic Worlds The History and Guide of Ropleying Gmaes, Roleplaying Games Bible, Historia dos Jogos: Os Melhores Jogos do Mundo, Master of The Games do Gary Gygax, 30 years of adventure da Wizards of The Coast que conta a história da TSR e do D&D, ou seja, pouca coisa mesmo foi retirada de sites, até porque elas são erradas ou incompletas, fiz até amizade no Face Book com o filho do Gary Gygax, o Luck Gygax para tirar dúvidas sobre a verdadeira história do RPG, vcs vão adorar a Parte 4 e 5 do trabalho, tem muita coisa que ninguém sabe sobre a origem dos jogos de RPG.

    Abs

    Luciano

    ResponderExcluir