terça-feira, 2 de outubro de 2012

Dust Devils: Death Cards: Vietnã e Seus Demônios (1/2)


( Esta adaptação já foi previamente comentada em outra postagem Aqui)  


Dust Devils:Death Cards

(Uma adaptação não oficial)

Esta é uma adaptação de Dust Devils para cenários de guerra modernas, sombrios como a Guerra do Vietnã. Apesar de alguma preocupação com elementos históricos, a ideia do jogo é colocar jogadores na pele de soldados em meio a um conflito violento, sem sentido e muitas vezes pouco compreendido em seus aspectos práticos pela “inteligência” do próprio exército.

(Dust Devils é um RPG criado por Matt Snyder e publicado no Brasil pela Editora Redbox. O presente material não é oficial, não tem fins lucrativos, e, tal qual o original, tem uma preocupação mais ficcional do que uma reprodução do momento histórico, no caso, a guerra do Vietnã).




O nome “Death Cards” vem das cartas de baralho jogadas sobre inimigos mortos - reais ou supostamente associados 1- “vietcongues” (termo usado pelos americanos, mas jamais assumido como próprio por vietnamitas) durante a guerra do Vietnã.

A Ambientação:
As mesas podem ser  interpretadas tanto na pele de jovens americanos- visão eternizada em bons filmes, sobretudo Apocalipse Now  e Platoon – como podem trazer novos elementos para a realidade da mesa, como serem um grupo de guerrilheiros vietnamitas resistindo e fazendo sua “guerra contra os americanos”, ou mesmo em versões diferentes de nacionalidades, como franceses colonizadores, ou do exército da França no primeiro “conflito da Indochina” (o segundo foi  o mais conhecido, dos exércitos  americanos).
Os personagens podem ser não apenas soldados, mas espiões, jornalistas, pilotos de avião de carga, ou qualquer personagem que tenha sido, de algum modo, testemunha ocular do conflito.
Um bom épico se faz, afinal, a partir de grandes provações e grandes desafios. Uma guerra traz o que há de melhor e o de pior na humanidade (o último, infelizmente, com maior frequência), e algumas guerras são excepcionalmente férteis no imaginário social enquanto símbolos deste período. Algumas guerras são vistas como heroicas, como a segunda guerra mundial, enquanto outras são vistas como uma tragédia, como a guerra do Vietnã.

Um  pouco de História:
A Guerra do Vietnã foi um conflito que abrangeu não apenas o conflito americano, nem somente o Vietnã, sendo preferido por alguns os termos “Guerra da Indochina”. E o que chama, até hoje, a atenção para este conflito é o aspecto psicológico e traumático para a imensa maioria dos envolvidos. Ainda que a presenta adaptação se evolva mais com os lados americanos e Francês das dificuldades do conflito, sem dúvida que o lado dos exércitos e população vietnamitas também sofreram um enorme custo emocional e material com o conflito.

Os franceses  “colonizaram” o país na segunda metade do século XIX, mas com a Segunda Guerra Mundial, a invasão alemã na França forçou uma mudança radical das suas  políticas externas, tanto por razões de diplomacia como, evidentemente, pela ausência de um exército para “defender territórios franceses” (um eufemismo para a situação em que a França perdeu parte do poder de fogo para manter ocupação e invasão em outro país).
A Indochina é uma região composta por Vietnã, Laos e Camboja, e estes territórios foram perdidos pela França nas décadas que se seguiram. Pior para eles, um movimento nacionalista, o Viet-minha (“Liga vietnamita ) começou uma série de ataques e se consolidou como luta armada ao longo da segunda metade da década de 40. Um dos líderes do movimento, Conhecido como “Ho Chi Minh” (“Aquele que Ilumina”) tornou-se o principal articulador da resistência. Os objetivos eram claros, retomar  o país das mãos “Imperialistas ocidentais” (algo que parece um chavão, mas no caso é um termo perfeitamente aplicado), e a França se viu enfiada no primeiro “lamaçal” conhecido como “Primeira Guerra da Indochina”.

Em 1954, uma convenção em Genebra determinou que o país fosse “momentaneamente” dividido em dois (a parte do norte sob controle de Ho Dhi Minh, e a do sul sob os cuidados de um político  boneco de manobra francês, enquanto eleições se organizariam no país para decidir a quem caberia o governo, afinal.

Os americanos ainda estavam ressabiados por causa da Guerra da Coréia, e um dos discursos que surgiu era a chamada “Teoria do Dominó”, onde se a “onda comunista” não fosse freada, um após outro país na região cairiam sob os cuidados de governos “vermelhos” (China e URSS eram outros dois exemplos).

Os franceses, na prática, foram derrotados, e os brios americanos, em plena fase de “caça às bruxas” entendia que seu modo de vida seria ameaçado, que isto fortaleceria de algum modo a ameaça que os soviéticos representavam, ou seja, os americanos, que ganhavam status de grande potência mundial, e se viam envolvidos em uma série de jogos políticos e militares com a “Cortina de Ferro ”perceberam que precisavam assegurar seu osso de todas as formas disponíveis.

Do lado soviético, e sobre tudo chinês, o mesmo tipo de interesse nascia. Ter um país ideologicamente pareado com seus próprios interesses era interessante e fortalecia de várias formas suas próprias doutrinas e politicas.

Ou seja, não haviam inocentes entre os grandes agentes políticos mundiais, e isso não pode ser desprezado, nem historicamente, e nem se tratando de um jogo que traz aspectos psicológicos como ponto forte  (para ações de espionagem recomendo fortemente a adaptação “Death Wish” que consta do livro traduzido pela Redbox).

A partir do encontro em Genebra, todavia, foi ficando claro que as eleições pendiam para  o norte, e os americanos passaram a apoiar grupos separatistas Vietnamitas (na região ao sul),  inclusive com soldados enviados para “treinamento”, mas quando a verba e material começaram a se mostrar insuficientes, criaram um artifício, o suposto ataque a um de seus navios (hoje, reconhecido como embuste) e fizeram aprovar a “Resolução do Golfo de Tonquim” que considerava tal ação um “Ato de guerra”, justificando, assim o envio de tropas, a partir de 1964.

Assim como fizeram os franceses, o exército americano superestimou seu poderio militar e a capacidade dos atos de guerrilha. Uma das ações mais espetaculares que o exército “vietcongue” utilizava, eram engenhosos túneis, chamados de “buracos de rato”. Outra forma eficaz de resistência eram armadilhas que abriam buracos no chão, com pequenos troncos giratórios, não necessariamente matando o soldado, mas inutilizando sua perna, causando infecções (muitas das pontas de bambu eram acrescidas de elementos como fezes). Outros tipos de armadilha incluíam venenos que causavam fortes irritações nas peles de soldados inimigos, ou armadilhas, usando tubos de lança-mísseis descartados por americanos que espalhavam granadas por uma área. O uso de fuzis “Kalishnikov”, de projeto russo (admirados até hoje por sua simplicidade e resistência) eram distribuídos e lança-foguetes disparados de locais diversos no meio da floresta eram o inferno de pilotos de helicópteros americanos.

Os americanos, por outro lado, dispunham de excelente material militar, que ainda que bem utilizado, não dava conta da mesma plasticidade que o exercito inimigo tinha. Fumaças coloridas, técnicas de uso de helicópteros como forma de transporte e resgate, lanchas, uso de armas como Napalm, Agente Laranja (um desfolhador que tem como efeito causar câncer – e independentemente de bandeiras) ou mesmo bombas de fósforo e lança-chamas eram material disponível.  Rádios eram importantes para facilitar a comunicação das tropas, pedir bombardeios em áreas específicas e coordenação de ataques, mas o grande problema é que nada disso trazia conforto para a moral das tropas.

O uso gradual de drogas, violência contra oficiais, neuroses de guerra e protestos de civis americanos contra o Vietnã eram uma mostra de que nada parecia estar fazendo sentido naquele conflito.

Em reforço a essa ideia crescente houve a ”Ofensiva de Tet”, uma série de ataques de guerrilha perpetradas pelo “norte” que atacou cidades e pontos chaves dominadas pelos americanos e consideradas “seguras”. Durante algumas semanas o domínio de partes importantes de território foram perdidas e o discurso até então de que os americanos poderiam vencer a guerra, se mostrou cada vez mais difícil de sustentar.

A televisão e os jornais  mostrava a cada vez, horrores piores, como colares de orelhas (que realmente existiram), monges incendiando os próprios corpos, crianças nuas correndo após um ataque de napalm, e oficiais atirando a queima-roupa em  civis.

O exercito americano apresentava soluções pouco plausíveis, como “bombardeio de camisinhas extragrandes”,  para “minar a moral dos Charlies” (termo comum para combatentes “vietcongues”), as já citadas “cartas da morte”, e outros recursos pouco dotados de brilhantismo.

Ao mesmo tempo, tornava-se nítido que o exército americano estava nos limites de sua capacidade psicológica. Um episódio conhecido como “Massacre de My Lai” (recomendo que procurem conhecer ) em que habitantes de quatro aldeias (My Lai era uma destas)  foram metralhados e assassinados com requintes de crueldade, é uma amostra disso.  O episódio, que só foi evitado de ser levado com ainda mais crueldade pelo piloto americano Hugh Thompson Jr, foi um dos mais lamentáveis atos de genocídio cometidos.

Certamente que a crueldade existia no outro lado. Uso de mulheres ou crianças como “bombas”, que explodiam ao alcançarem helicópteros americanos que só queriam ajudar, doutrinação, tortura, e os campos de prisioneiros do exército da “Frente Nacional de Libertação” (o nome oficial para o exército do norte) não fazem deles mais éticos e humanitários. E, voltando ao jogo, estes são elementos que podem ser explorados com facilidade (se tiver estomago) em uma mesa.

(Nota: Há muito mais sobre a Guerra em uma centena de livros e textos. O resumo acima é apenas para ajudar mestres e jogadores a se familiarizarem com o contexto histórico).

Nos próximos dias trago as adaptações de regras sugeridas, ficha e outras coisas, facilitando a transposição do jogo.

Abraços.

Para a continuação da postagem: Parte 2
( Se der algum problema com o link, segue ele por extenso: http://saiadamasmorra.blogspot.com.br/2012/10/death-cards-vietna-para-dust-devil-22.html )
Brega Presley

5 comentários:

  1. Mais uma adaptação interessante do Brega! Quem sabe dá pra usar em sala de aula?

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  2. Valeu, Ewok Doido!

    Estou há um tempão enrolando com esse material. Espero que goste.
    Abraços.

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  3. Excelente aula de História, e depois falam mal do RPG, sem saber que fonte rica de informações ele é. Parabéns Brega, ótimo post, ótima aula e ótima idéia para uma mesa de DUST DEVILS.Abraços nerds

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  4. Valeu, Alexandre, acho este um período especialmente interessante da história recente.
    Abraços.

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  5. ideia legal sempre achei mtu estranho rpg "contemporâneos" mas esse até parece ser vai ficar legal

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