Dust Devils:Death Cards
(Uma adaptação não oficial)
Esta é uma adaptação de Dust Devils para cenários de guerra
modernas, sombrios como a Guerra do Vietnã. Apesar de alguma preocupação com
elementos históricos, a ideia do jogo é colocar jogadores na pele de soldados
em meio a um conflito violento, sem sentido e muitas vezes pouco compreendido
em seus aspectos práticos pela “inteligência” do próprio exército.
(Dust Devils é
um RPG criado por Matt Snyder e publicado no Brasil pela Editora Redbox. O
presente material não é oficial, não tem fins lucrativos, e, tal qual o
original, tem uma preocupação mais ficcional do que uma reprodução do momento
histórico, no caso, a guerra do Vietnã).
O nome “Death Cards” vem das cartas de baralho jogadas sobre
inimigos mortos - reais ou supostamente associados 1- “vietcongues” (termo
usado pelos americanos, mas jamais assumido como próprio por vietnamitas)
durante a guerra do Vietnã.
A Ambientação:
As mesas podem ser
interpretadas tanto na pele de jovens americanos- visão eternizada em
bons filmes, sobretudo Apocalipse Now e Platoon
– como podem trazer novos elementos para a realidade da mesa, como serem um
grupo de guerrilheiros vietnamitas resistindo e fazendo sua “guerra contra os
americanos”, ou mesmo em versões diferentes de nacionalidades, como franceses
colonizadores, ou do exército da França no primeiro “conflito da Indochina” (o
segundo foi o mais conhecido, dos
exércitos americanos).
Os personagens podem ser não apenas soldados, mas espiões,
jornalistas, pilotos de avião de carga, ou qualquer personagem que tenha sido,
de algum modo, testemunha ocular do conflito.
Um bom épico se faz, afinal, a partir de grandes provações e
grandes desafios. Uma guerra traz o que há de melhor e o de pior na humanidade
(o último, infelizmente, com maior frequência), e algumas guerras são
excepcionalmente férteis no imaginário social enquanto símbolos deste período.
Algumas guerras são vistas como heroicas, como a segunda guerra mundial,
enquanto outras são vistas como uma tragédia, como a guerra do Vietnã.
Um pouco de História:
A Guerra do Vietnã
foi um conflito que abrangeu não apenas o conflito americano, nem somente o
Vietnã, sendo preferido por alguns os termos “Guerra da Indochina”. E o que
chama, até hoje, a atenção para este conflito é o aspecto psicológico e
traumático para a imensa maioria dos envolvidos. Ainda que a presenta adaptação
se evolva mais com os lados americanos e Francês das dificuldades do conflito,
sem dúvida que o lado dos exércitos e população vietnamitas também sofreram um
enorme custo emocional e material com o conflito.
Os franceses “colonizaram” o país na segunda metade do
século XIX, mas com a Segunda Guerra Mundial, a invasão alemã na França forçou
uma mudança radical das suas políticas
externas, tanto por razões de diplomacia como, evidentemente, pela ausência de
um exército para “defender territórios franceses” (um eufemismo para a situação
em que a França perdeu parte do poder de fogo para manter ocupação e invasão em
outro país).
A Indochina é uma
região composta por Vietnã, Laos e Camboja, e estes territórios foram perdidos
pela França nas décadas que se seguiram. Pior para eles, um movimento
nacionalista, o Viet-minha (“Liga vietnamita ) começou uma série de ataques e
se consolidou como luta armada ao longo da segunda metade da década de 40. Um
dos líderes do movimento, Conhecido como “Ho Chi Minh” (“Aquele que Ilumina”)
tornou-se o principal articulador da resistência. Os objetivos eram claros,
retomar o país das mãos “Imperialistas
ocidentais” (algo que parece um chavão, mas no caso é um termo perfeitamente
aplicado), e a França se viu enfiada no primeiro “lamaçal” conhecido como
“Primeira Guerra da Indochina”.
Em 1954, uma
convenção em Genebra determinou que o país fosse “momentaneamente” dividido em
dois (a parte do norte sob controle de Ho Dhi Minh, e a do sul sob os cuidados
de um político boneco de manobra
francês, enquanto eleições se organizariam no país para decidir a quem caberia
o governo, afinal.
Os americanos ainda
estavam ressabiados por causa da Guerra da Coréia, e um dos discursos que
surgiu era a chamada “Teoria do Dominó”, onde se a “onda comunista” não fosse
freada, um após outro país na região cairiam sob os cuidados de governos
“vermelhos” (China e URSS eram outros dois exemplos).
Os franceses, na
prática, foram derrotados, e os brios americanos, em plena fase de “caça às
bruxas” entendia que seu modo de vida seria ameaçado, que isto fortaleceria de
algum modo a ameaça que os soviéticos representavam, ou seja, os americanos,
que ganhavam status de grande potência mundial, e se viam envolvidos em uma
série de jogos políticos e militares com a “Cortina de Ferro ”perceberam que
precisavam assegurar seu osso de todas as formas disponíveis.
Do lado soviético,
e sobre tudo chinês, o mesmo tipo de interesse nascia. Ter um país
ideologicamente pareado com seus próprios interesses era interessante e fortalecia
de várias formas suas próprias doutrinas e politicas.
Ou seja, não haviam
inocentes entre os grandes agentes políticos mundiais, e isso não pode ser
desprezado, nem historicamente, e nem se tratando de um jogo que traz aspectos
psicológicos como ponto forte (para
ações de espionagem recomendo fortemente a adaptação “Death Wish” que consta do livro traduzido pela Redbox).
A partir do
encontro em Genebra, todavia, foi ficando claro que as eleições pendiam
para o norte, e os americanos passaram a
apoiar grupos separatistas Vietnamitas (na região ao sul), inclusive com soldados enviados para
“treinamento”, mas quando a verba e material começaram a se mostrar
insuficientes, criaram um artifício, o suposto ataque a um de seus navios
(hoje, reconhecido como embuste) e fizeram aprovar a “Resolução do Golfo de
Tonquim” que considerava tal ação um “Ato de guerra”, justificando, assim o
envio de tropas, a partir de 1964.
Assim como fizeram
os franceses, o exército americano superestimou seu poderio militar e a
capacidade dos atos de guerrilha. Uma das ações mais espetaculares que o
exército “vietcongue” utilizava, eram engenhosos túneis, chamados de “buracos
de rato”. Outra forma eficaz de resistência eram armadilhas que abriam buracos
no chão, com pequenos troncos giratórios, não necessariamente matando o
soldado, mas inutilizando sua perna, causando infecções (muitas das pontas de
bambu eram acrescidas de elementos como fezes). Outros tipos de armadilha
incluíam venenos que causavam fortes irritações nas peles de soldados inimigos,
ou armadilhas, usando tubos de lança-mísseis descartados por americanos que
espalhavam granadas por uma área. O uso de fuzis “Kalishnikov”, de projeto
russo (admirados até hoje por sua simplicidade e resistência) eram distribuídos
e lança-foguetes disparados de locais diversos no meio da floresta eram o
inferno de pilotos de helicópteros americanos.
Os americanos, por
outro lado, dispunham de excelente material militar, que ainda que bem
utilizado, não dava conta da mesma plasticidade que o exercito inimigo tinha.
Fumaças coloridas, técnicas de uso de helicópteros como forma de transporte e
resgate, lanchas, uso de armas como Napalm, Agente Laranja (um desfolhador que
tem como efeito causar câncer – e independentemente de bandeiras) ou mesmo
bombas de fósforo e lança-chamas eram material disponível. Rádios eram importantes para facilitar a
comunicação das tropas, pedir bombardeios em áreas específicas e coordenação de
ataques, mas o grande problema é que nada disso trazia conforto para a moral
das tropas.
O uso gradual de
drogas, violência contra oficiais, neuroses de guerra e protestos de civis
americanos contra o Vietnã eram uma mostra de que nada parecia estar fazendo
sentido naquele conflito.
Em reforço a essa ideia
crescente houve a ”Ofensiva de Tet”, uma série de ataques de guerrilha perpetradas
pelo “norte” que atacou cidades e pontos chaves dominadas pelos americanos e
consideradas “seguras”. Durante algumas semanas o domínio de partes importantes
de território foram perdidas e o discurso até então de que os americanos
poderiam vencer a guerra, se mostrou cada vez mais difícil de sustentar.
A televisão e os
jornais mostrava a cada vez, horrores
piores, como colares de orelhas (que realmente existiram), monges incendiando
os próprios corpos, crianças nuas correndo após um ataque de napalm, e oficiais
atirando a queima-roupa em civis.
O exercito
americano apresentava soluções pouco plausíveis, como “bombardeio de camisinhas
extragrandes”, para “minar a moral dos
Charlies” (termo comum para combatentes “vietcongues”), as já citadas “cartas
da morte”, e outros recursos pouco dotados de brilhantismo.
Ao mesmo tempo,
tornava-se nítido que o exército americano estava nos limites de sua capacidade
psicológica. Um episódio conhecido como “Massacre
de My Lai” (recomendo que procurem conhecer ) em que habitantes de quatro
aldeias (My Lai era uma destas) foram
metralhados e assassinados com requintes de crueldade, é uma amostra
disso. O episódio, que só foi evitado de
ser levado com ainda mais crueldade pelo piloto americano Hugh Thompson Jr, foi
um dos mais lamentáveis atos de genocídio cometidos.
Certamente que a
crueldade existia no outro lado. Uso de mulheres ou crianças como “bombas”, que
explodiam ao alcançarem helicópteros americanos que só queriam ajudar,
doutrinação, tortura, e os campos de prisioneiros do exército da “Frente
Nacional de Libertação” (o nome oficial para o exército do norte) não fazem
deles mais éticos e humanitários. E, voltando ao jogo, estes são elementos que
podem ser explorados com facilidade (se tiver estomago) em uma mesa.
(Nota: Há muito mais sobre a Guerra em uma centena de livros e textos. O resumo acima é apenas para ajudar mestres e jogadores a se familiarizarem com o contexto histórico).
Nos próximos dias trago as adaptações de regras sugeridas, ficha e outras coisas, facilitando a transposição do jogo.
( Se der algum problema com o link, segue ele por extenso: http://saiadamasmorra.blogspot.com.br/2012/10/death-cards-vietna-para-dust-devil-22.html )
Brega Presley
Mais uma adaptação interessante do Brega! Quem sabe dá pra usar em sala de aula?
ResponderExcluirValeu, Ewok Doido!
ResponderExcluirEstou há um tempão enrolando com esse material. Espero que goste.
Abraços.
Excelente aula de História, e depois falam mal do RPG, sem saber que fonte rica de informações ele é. Parabéns Brega, ótimo post, ótima aula e ótima idéia para uma mesa de DUST DEVILS.Abraços nerds
ResponderExcluirValeu, Alexandre, acho este um período especialmente interessante da história recente.
ResponderExcluirAbraços.
ideia legal sempre achei mtu estranho rpg "contemporâneos" mas esse até parece ser vai ficar legal
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