Nunca, nem nos meus sonhos mais
loucos eu me imaginaria um dia conhecendo e conversando com Marcelo Rodrigues,
que na época em que eu conheci o Tagmar era pra mim meio como um tipo de “semideus”
que vivia num castelo entre as nuvens hahahaha!
Bem, tive a sorte de
conhecê-lo em um dos melhores eventos de RPG do Rio, o X3 Zobe, em uam de suas
palestras sobre o Tagmar II, realizado no clube América na Tijuca e de lá para
cá posso dizer que ele esta na lista de meus amigos favoritos, assim como sua
linda família que tive a oportunidade de conhecer.
Mas depois de anos de
amizade, me toquei que além das minhas mesas no Saia da Masmorra, ainda não
tinha escrito nada sobre o Tagmar e não tinha compartilhado com outros amigos e
entusiastas do hobby os pormenores da criação do 1° RPG Nacional e do 1° RPG
nacional gratuito aberto o Tagmar II e nem de seu criador, o nosso “Gary Gygax”
brasileiro.
Melhor do que escrever, resolvi
fazer uma entrevista com Marcelo, que gentilmente nos brinda com detalhes sobre
o jogo e sua vida. Digo “nos brinda”, porque para aqueles que não tiveram chance
a sorte de conhecê-lo pessoalmente, Marcelo é um sujeito alegre, um cara do
bem, entusiasmado que ama seu hobby e trabalha duro para fazer do projeto
Tagmar 2 uma realidade. Mas vamos para com a rasgação de seda e vamos a
entrevista, com vocês, Marcelo Rodriguês co-criador do Tagmar o 1° RPG
nacional.
Marcelo Rodrigues á direita mestrando em nosso evento.
Quem é Marcelo Rodrigues?
Nascido
1965 em Belém-PA, mas em 1972 se mudou para o Rio de Janeiro. Engenheiro de
Computação, Casado com 2 filhos. Atualmente trabalha em uma empresa de
desenvolvimento de Software atuando como gerente de projeto e arquiteto de
software.
Caixa do Tagmar 2ed, uma raridade do meu acervo.
Como foi seu primeiro
contato com os jogos de PRG?
Comecei a
jogar RPG em 1985 (AD&D) quando entrei na faculdade. Naquele ano teve um
greve de professores que durou 3 anos e foi aí que me tornei um grande fã de
RPG.
Capa Tagmar 2ed. este eu também guardo com carinho, vem dentro da caixa acima.
Na sua época de jogador,
antes da criação do Tagmar, quais eram seus jogos de RPG preferidos?
Jogávamos
AD&D e Star Frontiers.
Como começou a idéia de
produzir no Brasil um livro de RPG?
Quando chegou no final dos anos 80 eu
percebi que a mecânica de jogo dos RPGs não era nada de especial. Na época
tinha um grupo e a pessoa que mais conhecia RPG era o Ygor (um amigo meu).
Trocamos umas ideias e percebemos que não seria difícil fazer um RPG, e melhor
ainda... se fosse feito estaríamos sozinhos no mercado! A oportunidade comercial
era ótima. Foi assim que surgiu a ideia de fazer um RPG Nacional. O projeto
levou 3 anos e foi necessário mais 2 pessoas para se juntar a nós. Criar o
sistema do Tagmar foi fácil... Escrever um manual de regras de 200 páginas que
incluía a ambientação, magias e criaturas... Isto sim foi muito difícil.
Capa do Tagmar - Marcelo conta na época da 1° ed. o livro era "autodestrutivo" e que ele e os sócios montavam as páginas em ordem na GSA a mão antes de encadernar.
Como foi essa tarefa sem os
recursos de produção gráfica atuais?
Foi muito difícil, mas usamos um
software de editoração (Ventura Publisher) que era para DOS que rodava em um
XT. Imprimíamos em uma laser e a impressão ainda usou fotolitos. Arcaicos para
os padrões de hoje, mas na época foi revolucionário. Muitas editoras da época
ainda usavam métodos mais antigos de fotocomposição.
E a família? Como foi o
envolvimento da família neste processo?
Na época
eu era solteiro e minha família (meus pais) me apoiaram na iniciativa,
Qual a Historia da GSA?
A GSA foi a editora que os autores do Tagmar
fundaram para lançar os livros que estávamos criando.
Depois incluímos os livros do pessoal do Desafio dos Bandeirantes e do Millenia
ao portifófilo da editora.
Monstros, a base para todos os mestres. O Tagmar tinha o seu manual também.
Quais foram os títulos
lançados pela GSA e seus respectivos autores?
Publicamos
6 livros para o Tagmar (Manual de Regras, Livro de Criaturas, O Arado de Ouro,
A Fronteira, O Império e O Estandarte Sangrento). Para o Desafio dos
Bandeirantes foram 3 e para o Millenia 1. Ainda publicamos um livro jogo
baseado em um filme brasileiro, chamado de A Vingança de Magmor.
Porque você acha que GSA
não foi para frente como editora no mercado de jogos?
Retorno financeiro. Éramos quatro
sócios e o retorno financeiro era baixo. Simplesmente não dava para viver de
RPG, principalmente porque o mercado entrou em crise no fim dos anos 90. A GSA
não faliu. Apenas fechamos, já que não tínhamos dívidas.
Outra raridade de minha coleção, fica ao lado dos meus Aventuras Fantásticas.
Como foi que começou o
projeto Tagmar 2, aberto e gratuito para o público de língua portuguesa?
Em 2004 descobri que um grupo tinha colocado umas copias scaneadas do
Tagmar em um site. No inicio fiquei muito chateado e entrei em contato com os
responsáveis pelo site e pedi para retirarem, mas avisei que iria conseguir a
autorização. Reuni os autores do Tagmar e consegui a autorização. Infelizmente
este grupo não levou adiante a ideia e acabei por assumir isto. Começou bem
modesto com um grupo no YahooGrupos, mas incrivelmente surgiu pessoas de tudo
que foi lugar do Brasil e em pouquíssimo tempo passamos a ter dezenas de
pessoas colaborando. Tanto que o Tagmar 2 foi lançado em apenas 1 ano de
trabalho
Como é gerenciar tantas
cabeças produzindo material para o projeto?
Não é
nada fácil. Na verdade levar um projeto “open source” é bem difícil, já que
manter o pessoal motivado por tanto tempo não é nada fácil. Mas dá um enorme
prazer em ver como podemos produzir tanto material e em nível profissional. Já
passamos de 30 títulos e parece que vamos chegar aos 40 em breve.
O Arado de Ouro - Qualidade gráfica do material original da GSA era realmente boa, para época era melhor até que muitos suplementos importados.
Você considera o Tagmar um
RPG Oldschool?
Não. O
Tagmar agora é um RPG que se encaixa nos padrões atuais. Nosso trabalho foi
justamente modernizar o sistema. Ele tem aparência de oldschool, mas o sistema
em si não.
Quais são as perspectivas
para o futuro?
As perspectivas do Tagmar 2 são bem
promissoras. O Tagmar 2 é um produto que já nasceu digital, e agora com a
popularização dos e-readers, tablets e NetPcs, cada vez mais as pessoas estão
se acostumando a não ter versões impressas. A Wikipédia foi a pioneira... agora
nos dias de hoje... quem quer comprar uma enciclopédia?
Algumas palavras para
público RPGista a nova Geração?
Acreditem
no RPG Brasileiro. Nossos autores são tão bons quanto os estrangeiros!
Bem é isso aí pessoal, espero que gostem e fiquem com Deus!
Luciano Mota "Tolkien" Bastos
Marcelo é um dos caras mais gente boa que tive o prazer de conhecer em eventos.
ResponderExcluirA GSA foi a editora mais importante do país em RPG, mais do que a DEVVIR, na minha humilde opinião, porque não se propunha a reproduzir conteúdo importado, mas a produzir autores nacionais.
E isso, em um país que não dá incentivos decentes a novos leitores e sobretudo, a escritores, é de uma enormidade espantosa.
Tagmar não é apenas "história", no melhor sentido, mas é, ainda hoje, um RPG interessante, gostoso de jogar, e que é sempre um prazer participar ou assistir uma mesa com o sistema.
Belíssima entrevista, meu caro Tolkien.
É, realmente fica aqui a omenagem ao amigo Marcelo e seu trabalho com o projeto Tagmar 2 que permite que jogadores de lingua portuguesa do mundo todo joguem um bom RPG gratuito.
ResponderExcluirRealmente temos bons escritores de rpg em solo nacional produzindo material de qualidade. MightyBlade por exemplo... Em fim d20 system pode ate ser melhor e o mais jogado.... Afinal foi trabalhos de anos. Mas os unicos rpgs que me faz me sentir sempre inspirado sao muitas fas vezes esses nossos rpgBR
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