domingo, 27 de janeiro de 2013

A Chaosium, Lynn Willis e Call of Cthulhu


Lynn Willis 

Recentemente o amigo Luciano Giehl (criador do fantástico blog Mundo Tentacular http://mundotentacular.blogspot.com.br/ e um dos maiores conhecedores do RPG Call of Cthulhu) postou uma nota sobre o falecimento de Lynn Willis, escritor e game designer que trabalhou com a Chaosium, empresa fundada por Francis Gregory Stafford.

Sandy Petersen, criador do RPG Call of Cthulhu

A Chaosium é a empresa responsável pelo lançamento do RPG de horror Call of Cthulhu, criado por Sandy Petersen (e revisado por Lynn), o jogo, com cenário inspirado na obra do escritor americano Hawrd Phillips Lovecraft, que na década de 30 publicou algumas histórias de horror sobrenatural e pseudo científicas na fantástica revista Weird Tales, também é conhecido por seu grupo de "amigos escritores" o famoso “Círculo HP Lovecraft”, que tinha autores que trabalharam em histórias com base na sua mitologia fictícia conhecida como “Os Mitos de Cthulhu” dentre eles podemos destacar Robert E. Howard (criador de Conan o Bárbaro, obra que mais tarde foi adaptada para revistas em quadrinhos e filmes), Robert Bloch , Clark Ashton Smith, entre outros.

Lynn no escritório da Chaosium em 1990

Lynn no entanto não começou a vida escrevendo sobre RPGs, mas sim escrevendo e reescrevendo regras e cenários para Wargames (o que lembra muito a história de Gary Gygax e Dave Anerson) assim como material para jogos e revistas de editoras conhecidas como a Games Workshop e Metagaming.

Olha o Pessoal da Chaosium jogando na sala de jogos e reuniões 1990

A morte de Lynn no entanto, nos relembra a perda de membros de um geração que criou o nosso amado hobby e merece ser lembrada aqui com entusiasmo e carinho, homenagens a homens da geração de Lynn lembra casos como o da morte de Gary Gygax e Dave Arneson, co-criadores do Dungeons & Dragons que comoveram o mundo dos hobbygamers como nós.


Estande da Chaosium hoje em dia!


Pôster do "Malleus Monstrorum", esse ta minha coleção também.

Jogos da Chaosium como Call of Cthulhu, Rune Quest, Nephilim já fazem parte daquele seleto grupo de jogos antigos e com sistema muito divertidos que chamamos carinhosamente de Oldschools, ou “jogos da velha escola”, como o Saia da Masmorra sempre tenta levar esses jogos ao público, e não me lembro de ter lido aqui no nosso Blog uma matéria inteira falando sobre a história da Chaosium, postarei uma de minhas matérias sobre a história do Hobby (campo desta sub-cultura de que gosto muito) para homenagear não só a o Lynn, Stanford e Petersen mas ao fantástico RPG de horror e sua empresa, cujos temas abordados já encontraram o caminho em terras Tupiniquins através de publicações da Retropunks e seu Rastro de Cthulhu.



Meu material de pesquisa, mais uma vez, envolve o trabalho clássico de leitura em livros (infelizmente muito raro hoje em dia) e é claro, páginas da internet sobre o tema, dentre as quais gostaria de ressaltar a página de Steve Darlington a fantástica página de Shannon Appelcline, a sempre presente Wikipedia e aos livros como os do escritor David Kacheek e o próprio material da Chaosium, que graças aos “Grandes Antigos”, abunda nas prateleiras da minha coleção.

* * *
Capa do livro de regras do jogo de Stafford

Bem, a história da Chaosium começa (como sempre nestes casos) com iniciativa de um entusiasta dos jogos de guerra e leitor aficionado por mitologia e fantasia Greg Stafford, que já em idos de 1966, escrevia material para seu mundo de fantasia Glorantha que já havia sido rejeitado por várias empresas e editoras. Inicialmente Stafford queria publicar seu cenário de fantasia em um livro jogo no estilo "Aventuras Fantásticas", mas sem sucesso e por incrível que pareça, (segundo Shannon), depois de um leitura auspiciosa de cartas de Tarot, Greg resolve fundar a Chaosium Inco.

Caixa do jogo White Bear & Red Moon de Stafford (o princípio de tudo) , excelente material, lembra muito Cry Havoc da Standard Games

Criada em 1975 para lançar o Wargame de fantasia White Bear & Red Moon, que tratava de grandes combates entre exércitos de fantasia numa região chamada Dragonpass no mundo de Glorantha a Chaosium entre 1975 e 1981 lançou vários outros jogos no mercado, a grande maioria deles desconhecidos pelo o público.

Estande da Chaosium 1978 no centro Greg Stafford

Em 1977 (ano em que nasceu este vos escreve) a Chaosium adquiriu os direitos de publicação da obra de Michael Moorcock para um Wargame (mas veríamos o mundo de Elrick de Melniboné em outras publicações da Chaosium mais tarde).


Tadashi Ehara, (Editor da revista Different Worlds) Greg Stafford (Fundador da Chaosium) e Sandy Petersen (criador do Call of Cthulhu RPG) em 1979.

A década de 70 foi realmente importante para Chaopsium, pois a base de seus desenvolvedores e game designers começava a se formar (numa reunião em uma festa, pode acreditar!), alguns anos após a compra de uma cópia do D&D de Gygax (na época um simples game designer), nasceria Ruen Quest, um dos RPGs de maior sucesso da Chaosium e um clássico nas mesas de mestres veteranos como nós. Neste período várias empresas de RPG nasceram, e por incrível que pareça apenas a TSR e a Chaosium sobreviveram ao longo destes 30 anos. Também foi o período em que a Chaosium publicaria material genérico para os jogos existentes no mercado.

O Runequest 1° ed.

Depois de ser rejeitada a escrever material oficial para o D&D da TSR a Chaosium iniciou o processo de criação de um sistema próprio e esse seria o sistema usado em Rune Quest publicado 1981 e daria a liberdade que a Chaosium precisava para publicar seu próprio material e se estabelecer como editora no mercado.

Mais algumas raridades da minha coleção. o Advanced Heroquest (que eu comprei em uma barraca de rua no centro do Rio, pode acreditar?!) e o Rune Quest 2° Edição que já tenho a anos)

Entre 1978 á 1982 nascia o BRP, cujo primeiro jogo foi Rune Quest, inovador por oferecer um sistema completo baseado em perícia para criação e desenvolvimento de personagens (um grande avanço para época), neste período a Chaosium produziu os melhores suplementos e trabalho no mercado até aquele momento, como é o Caso Borderland de 1982 e Big Ruble. Desenvolveu também o primeiro sistema genérico de PRG o Basic Role-Playing, antes mesmo do Fantasy Trip de Jackson virar o GURPS e o Hero System se expandir com o Champions, evento na história dos jogos de RPG genéricos pouco conhecido pelos jogadores da nova geração.


Uma inovação da Chaosium que foi o lançamento muito bem sucedido de Stormbringer, abriu o mercado de RPGs para a mania das “licenças de cenários adaptados” que se multiplicariam como moscas nos anos seguintes por várias outras editoras. Mas esse também foi o período de um fenômeno, o lançamento de Call of Cthulhu, o primeiro jogo de RPG de horror criado por Sandy Petersen e licenciado pela Arkham House um jogo baseado nas histórias de HP Lovecraft (citado acima).


Capa do RPG Stormbringer (nome da famigerada espada runa amaldiçoada carregada pelo príncipe albino da ilha dos Dragões), tenho alguns RPGs da Chaosium da série de Moorcock e são realmente muito divertidos, sem falar no grande peso do fantástico cenário.

Call of Cthulhu foi um sucesso ainda maior que Ruen Quest, foi o jogo de horror mais vendido e jogado por mais 10 anos e só perdeu seu fôlego com o lançamento doa White Wolf seu "Word of Darkness" na década de 90. O sucesso do Call of Cthulhu foi tão estrondoso, que a Chaosium passou dar total atenção a este produto, para alegria e divertimento de uma legião de fãs pelo mundo. Claro que antes deste fenômeno ela continuou trabalhando em RPGs de linhas mais antigas como o Rune Quest que sofreu varias revisões e em jogos novos como Elfquest, Nephilim, Deltagreen, Elrick, Dragonlords of Melniboné, entre outros...

Capas das várias edições de Call of Cthulhu RPG, o mais interessante é que as mudanças foram muito leves, é possível jogar sem problemas com seus vários livros de regras.

Call of Cthulhu RPG (hoje com 30 anos de idade) realmente rompeu certos paradigmas e trouxe um nova perspectiva aos jogos de RPG. 

Lembro do meu primeiro jogo de Call of Cthulhu como se fosse ontem, no auge dos meus "poderosos 17 anos" fui convidado por uma amiga da saudosa Associação Santista de RPG (na época eu morava em SP) a jogar um jogo novo na casa de um amigo, o cara morava em um “big” apartamento na cidade vizinha, São Vicente, num prédio de frente para praia, era inverno tava frio, uns 18°, chovia aquela garoa fina e nós só chegamos lá por volta das 20h. 

Outro joguinho bom pra caramba da Chaosium.

Na casa do nosso anfitrião tinha um quadro da avó dele na sala com quase 2m pendurado na parede em frente da grande mesa de jantar (onde nós íamos jogar é claro!), era meio fantasmagórica aquela grande figura de branco em um fundo escuro meio difuso, para completar o clima ele fez uma introdução muito bacana... tipo, como cada personagem contatou o sobrenatural na sua história pessoal, ele fez uma pequena aventura para cada um, cada um de nós tinha um segredo sombrio sobre como nossos personagens tomaram conhecimento dos Mythos de Cthulhu... para completar o clima de terror, ele usou como fundo musical o disco de vinil (como eu tô velho!) do filme Pesadelo (no tocante a esta noite auspiciosa, tivemos até um aparelho de som, que ligou sozinho no corredor do grande apartamento, fazendo todos correrem para a sala para iniciar o jogo! Isso só aumentou a "mistica" entorno do jogo em nossas cabeças). 

Toda a coleção de Call of Cthulhu merece ser jogada, as histórias são muito divertidas! (Tirando poucas exceções é claro)

Minha experiência inicial com Call of Cthulhu foi simplesmente fantástica a idéia de jogar com uma pessoa comum (um livreiro no meu caso), nada de espadas, armaduras e magia, os personagens eram gente comum numa época em que uma lanterna pesava 2kg e você tinha uma sociedade xenofóbica (década de 20) explorando os tratamento psiquiátricos mais obscuros... você é lançado em uma investigação onde ninguém acreditaria em você e se as pessoas comuns descobrissem suas "idéias peculiares" você seria internado como louco ou nos piores casos sofreria uma lobotomia em um sanatório! Era horror de verdade! E você tinha que contar com a sorte e muita astúcia para não ser destruído ou ficar louco, o jogo abriu tantos caminhos na minha imaginação que mal podia acreditar. 

As estorias de Call of Cthulhu são na sua maioria ambientadas nas décadas de 20 e 30, muita superstição e medo associados a um espírito de soberba criado pela tecnologia e ciência, ledo engano.

A despeito do meu entusiasmo com o jogo, só fui jogar Call of Cthulhu de novo anos mais tarde no Rio de Janeiro com a turma do Rio By Night (antigo live action de Vampire aqui do Rio que se reunia no Museu Histórico Nacional) e desde que comprei minha primeira cópia do livro de Regras mestro sempre que posso.

Olha o Lynn ai novamente! Essa é fora da Chaosium em 1991. Saca o fusquinha todo pintado!

A Chaosium e o Call of Cthulhu resistiram aos tempos difíceis do RPG, dada a qualidade fantástica de seus jogos e a incrível variedades de opções para mestres e jogadores que amam os mitos de Cthulhu, e apoiada na recente reedição dos contos de HP Lovecraft (que segundo o próprio Sandy Petersen) eram muito difíceis de se encontrar na época dele, hoje existem milhares de blogs e sites dedicados a obra de Lovecraft assim como um abundante material para leitura, o que torna o Call of Cthulhu e o trabalho de Petersen ainda mais atraentes (inclusive aqui no Brasil).

O antigo Arkham Horror pela Chaosium, esse jogo cooperativo inovou também nos Boardgames na sua época e continua muito divertido, o melhor jogo board game de horror na minha opinião. Quem está nos créditos? Lynn Willis é claro!

A Chaosium continua a publicar seus livros principalmente suplementos para o Call of Cthulhu, seus jogos como o Arkham Horror foi relançado pela Fantasy Filght Games e é um dos jogos de tabuleiro mais divertidos que eu já joguei na minha vida, estando sempre na listas dos jogos mais memoráveis jogados aqui em casa com os amigos! 

A morte de Lynn, nos alerta para a importância de relembrar grandes empreendedores do nosso Hobby, que por amor e dedicação levaram seus jogos até nós, nos fazendo aproveitar a satisfação e a alegria de poder jogá-los e celebrar a amizade com nossos amigos e familiares. 

Existem muitos detalhes da história da Chaosium que eu não postei aqui, mas eles podem ser lidos no sites listados abaixo e trata-se de uma leitura muito bacana por trazer detalhes da longa história desta amada e querida editora, que se os Grandes Antigos permitirem continuará a nos brindar com seus excelentes livros! 

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http://www.rpg.net/columns/briefhistory/briefhistory3.phtml

http://www.weareallus.com/chaosium/shannonhistory.html

http://mundotentacular.blogspot.com.br/2013/01/falecimento-de-lynn-willis-co-autor-de.html

http://www.chaosium.com/article.php?story_id=530

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Que tal um mesinha de Call of Cthulhu para relembrar o Lynn?

Abraço a todos e espero que gostem.

Fiquem todos com Deus!

Luciano Mota “Tolkien” Bastos

2 comentários:

  1. Otimo texto, Bastos!
    Voce devia escrever em um blog, rapaz. :O)

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    1. Hahahaha é, pena que os caras daquele SDM são da elite, não iam querer publicar meus textos.

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