domingo, 1 de setembro de 2013

Texto para "Jihad para Destruir Barney, o Dinossauro"


O Rooney, frequentador do encontro do Saia da Masmorra sugeriu e eu acatei escrever um micro-conto a respeito da imagem abaixo:

A idéia caiu como uma luva, já que estávamos discutindo o RPG "Jihad para destruir Barney, o Dinossauro", uma maluquice divertida onde Barney o Dinossauro da TV seria uma espécie de mosntro que tenta dominar  o mundo atravéz de suas ações maléovolas, lavando o cerebro de crianaças por todo o mundo com seu programa (a única razão que consigo imaginar, fora  o péssimo gosto infantil para quele programa ter feito sucesso por tanto tempo).

O próprio RPG estimula a gente a escrever histórias dentro desse universo non-sense, então segue a minha tentativa:

De Estevaonoezio_436@castermail.com.br

Ao ouvirmos os primeiros sons achávamos que era uma tempestade se aproximando. O ar a nossa volta tremia e víamos, aqui e ali, pessoas se levantando e correndo. Era um dia ensolarado, sem nuvens, o que já tornava a coisa toda um pouco esquisita, mas chuvas de verão são assim, mesmo, aparecem do nada e nos deixam ensopados antes de conseguirmos achar um abrigo.

                Eu estava especialmente bem-humorado aquele dia. Tatiana finalmente quis sair da toca, e busquei ela em seu apartamento para um pic-nic no Parque Central. Algo difícil de se fazer depois do acidente do irmão caçula, alguns meses antes. Quando abriu a porta para entrar no carro quase fiquei surpreso, porque realmente não achava que aquele seria um dos dias ruins dela. Mas ela entrou, trouxe uma sacola com algumas comidas e se sentou ao meu lado.  Sergio e Bia estavam já no banco de trás, fazendo barulhos estranhos do tipo que eu prefiro não olhar pelo retrovisor para saber a causa.

                O Parque Central ainda tinha algumas vagas em volta,  o que nos permitiu parar sem maiores dificuldades, ainda que eu soubesse que quando voltássemos o Sol teria quase derretido os pneus.

                Um bom dia, enfim.

                A estranha movimentação de pessoas correndo não nos assustou à princípio. Muitas pessoas se levantavam e corriam por qualquer coisa, mas havia ainda muita gente nos brinquedos de crianças perto dali. Quando as mães pegam suas crianças pequenas e saem correndo de um parque, acredite, vem chuva da grossa, meu amigo. Mas a maioria das famílias permanecia calma, algumas olhando ao redor, mas ninguém acreditando que era, de fato, uma chuva por vir.

                A coisa só começou a mudar alguns instantes depois. As pessoas não apenas se levantavam e corriam, mas corriam todas na mesma direção. E muitas delas gritavam. Fora isso, o som de trovões começou a ficar ritmado, como nenhum trovão do mundo poderia ficar. Tiros, explosões, o que quer que fosse, simplesmente nos levantamos e começamos a correr.

                A Bia tropeçou na toalha estendida, mas eu e Sergio a apoiamos. Tatiana corria já a frente da gente, poucos metros à frente, e voltava o olhar para algo acima e gritava, acelerando a cada vez. Como estava apoiando ainda Tatiana não me dei ao luxo de me virar e mirar  o que estava acontecendo. Pensei no 11 de setembro americano, com aviões caindo sobre prédios, pensei em tiros de traficantes cariocas, pensei em algum assassino serial de escolas pelo mundo atirando em colegas. Não imaginei o que realmente fosse a ameaça.

                Enquanto corríamos uma senhora à frente trombou com uma criança do parquinho. Pulei por cima delas, agora tentando diminuir a distância que tinha de Tatiana. Depois foi a vez de um ciclista que começava a ganhar velocidade trombar com outra criança. Só que dessa vez, não apenas uma mas 3 delas o cercavam. E pareciam brigar com ele.

                Diminui o passo no piloto automático, como se precisasse entender  o que estava realmente acontecendo. Foi quando vi o olho de uma das crianças. Púrpura, como nada humano poderia ser. Um, dois pares de olhos me observando e o que eram duas crianças do parquinho começaram a correr em minha direção. Elas estavam com sangue nas bocas e corriam como tigres atrás de uma zebra.

                Atrás de mim os estrondos ficavam mais fortes a cada 5  ou seis segundos e dessa vez não me controlei e olhei, enquanto corria. Algo gigantesco me perseguia, e não era humano. Cacilda, não era nem algo que deveria estar ali. Era uma espécie de monstro gigantesco que, agora, olhava para  o ciclista todo machucado no chão.

                M virei para a frente e voltei a acelerar. Tatiana tentava se desvencilhar de uma garota de uns 3 anos, que aparentemente a segurava pelo calcanhar e mordia sua coxa. Eu apanhei uma lata de lixo de grade e bati na pequena monstra com ambas as mãos, machucando um pouco Tatiana, mas ela pareceu agradecida.

                Nossas mãos se tocaram e corremos juntos. Ouvi gritos, que pareciam do ciclista mais atrás e um brilho vindo de trás da gente me jogou ao chão, junto com Tatiana. O que vimos foi o monstro, um bípede do tamanho de um prédio, lançando brilhos de seus olhos, em direção a vários alvos. Não vi Sérgio e Bia atrás de nós e imaginei o pior. Me levantei, quase arrastando uma Tatiana histérica e corremos para  o carro. Ele estava perto da gente, agora um pouco amassado na lateral, e uma confusão de pessoas tentando entrar em seus veículos, buzinadas e gritos agora se espalhavam por toda a rua.

                Bipei as portas para abrir enquanto Tatiana dava a volta por trás do veiculo e chegava no lado do passageiro. Abri a porta e sai pela calçada, com um solavanco, enquanto Tatiana acabava de se jogar para dentro. Foi uma boa escolha, porque, apesar de tentar desviar de alguns pedestres ocasionais, a calçada lçarga estava mais fácil de andar do que a rua, com vários veículos dando um nó até o semáforo. Passei batido e acelerei.

                A perna de Tatiana sangrava. Um pedaço de carne arrancado, agora era esterilizado com desodorante spray que tinha no porta-luvas. Um quarteirão depois policiais começavam a fechar uma barreira, que passei por pouco.


                Quando saímos da zona de perigo, diminui a velocidade, até parar,  e eu e Tatiana nos abraçamos. Só paramos quando um grupo de crianças passaram por nós. Olhamos atentamente para elas, mas elas pareciam estar indo para alguma excursão de bandeirantes ou algo assim.

                Não vi nenhum olhar púrpura em seus rostos. Dessa vez.

                As horas seguintes foram caóticas na cidade, com avisos sobre um caminhão de químico que teria explodido no parque. Os sobreviventes, todos devidamente medicados, apareciam aqui e ali com relatos estranhos sobre canibalismo e monstros roxos gigantes. Sobre armas laser e sobre mortes terríveis.  Os noticiários afirmavam que era parte de uma alucinação coletiva causada por uma substância com um nome gigantesco e incompreensível.

                Aparentemente, das pessoas que estavam naquela parte do parque no dia, só nós vimos e escapamos. A cicatriz na coxa de Tatiana não nos deixa esquecer, e nós evitamos falar sobre  o assunto. Tatiana aliás, não quer mais me ver, e quase nunca fala comigo ao telefone.

                Agora eu escrevo de meu apartamento. Descobri que existe uma guerra santa a uma entidade conhecida como Ba´hnaei em alguns sites da internet. Alguns dizem que é um alienígena que está no nosso planeta para nos criar como gado. Outros que é um arquidemônio, que tenta dominar os corações mais puros e deles se alimentar. Todos concordam que é um inimigo a ser neutralizado.

                Arrumei minhas coisas e estou de partida. Uma pessoa da Jihad virá me buscar daqui a pouco. Envio este e-mail a todos os amigos que consigo me lembrar, exceto para a Tatiana, que vou, uma vez mais, tentar convencer Tatiana a ir comigo para um local mais seguro. Não acreditem em seus olhos. Não deixem seus filhos sofrer lavagem cerebral, e se achar que alguém tem olhos púrpuras, saia de lá imediatamente.



                De Tatycox@castermail.com.br:

                Estevão, eu sei que não tenho respondido você direito nessas semanas, e me desculpe por isso. Eu sei que tenho sido meio esquisita depois do que me aconteceu antes, e naquele dia no parque, mas acredito que esse tipo de coisa, se tanta gente está tentando fazer parecer que nunca ocorreu, que é melhor a gente ficar quieto. Lembra aquele cara esquisito anotando nome de pessoas no enterro da Bia? Agora pouco vi da janela aqui do apartamento um cara parecido com você atravessar a rua e ser atacado por um monte de colegiais e estou com medo.  Por favor, me responda logo, que estou preocupada. Vou nessa, me escreve a hora que ler isso. Estão batendo na porta, minha pizza chegou rápido. Vou pegar e volto pra ver se já leu.

Com S2, Taty
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Brega Presley


Ps: Outro texto, de Eder Marques, pode ser encontrado AQUI


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