Traveller, um clássico do sci-fi - parte 2 - o Cenário!

Bem-vindo, esta é a segunda parte da resenha de Traveller!

Hoje vou falar um pouco sobre o cenário padrão do Mongoose Traveller, o Terceiro Império (Third Imperium).
Apesar do estilo de ficção científica do Traveller ser "duro" (hard sci-fi), isso não significa que os tipos de aventura possíveis sejam limitados, muito pelo contrário. Apenas com o conteúdo do livro básico e alguns recursos disponíveis online, como mapas interativos (travellermap.com), wikis (wiki.travellerrpg.com), entre outros (use o google!), você pode criar aventuras e campanhas muito interessantes, mesmo levando em conta a escassez de conteúdo de cenário do livro básico.
Também vou falar um pouco sobre os suplementos que expandem e explicam o Terceiro Império.
Não deixe de dar uma olhada na primeira parte, que se encontra aqui!

O Cenário

Em Traveller obviamente o foco do jogo é nos viajantes do espaço, sejam eles exploradores, comerciantes, mercenários, caçadores de recompensa, ou até mesmo nobres buscando gastar seu dinheiro em extravagâncias.
O Terceiro Império é um cenário enorme, que possui várias civilizações, raças alienígenas, níveis tecnológicos que variam muito de um mundo para o outro. Isso quer dizer que nem o material mais detalhado sobre o sistema cobre em detalhes todo este vasto universo.

 

A Tecnologia

 

Uma característica importante do sistema é a atribuição de Nìveis de Tecnologia (TL, Technology Levels, em inglês) aos lugares que os jogadores podem visitar, sejam eles planetas, asteroides, luas, etc... Esse TL varia de 0, equivalente a idade da pedra, até 15 ou mais. TL 13 é a média do Terceiro Império, que é considerada uma tecnologia "média estelar", com naves grandes podendo pousar em planetas, e viajando até 4 parsecs por salto.
Existem drogas que adiam a velhice (e podem ser usadas durante a criação do personagem, para evitar deterioração de seus atributos antes do início do jogo), armas lasers são comuns, mas ilegais em muitos planetas, apesar do Império não restringir seu uso. Existem canhões de mésons, armas terríveis em combate espacial, pois elas conseguem atravessar a blindagem do alvo, liberando
radiação, além do dano normal.
Não existem escudos defletores como em Jornada nas Estrelas ou Guerra nas Estrelas. Existem "Telas" protetoras que diminuem o dano de armas de mésons ou armas nucleares, além de evitar alguns efeitos indesejáveis causados pelas mesmas.
Mas o mais importante é que apesar de haver viagem mais rápida do que a luz (FTL) não há comunicação mais rápida do que a luz, e as consequências disso no cenário são profundas.

 

 O Terceiro Império

 

Este é o cenário padrão de Traveller. Pouco se fala do Terceiro Império no livro básico. Enquanto as regras transferem bastante do estilo e do feeling do cenário de forma muito efetiva, no livro não se fala muito do Império em si.
A única menção específica, no começo do livro explica que um poderoso Império comanda o espaço entre as estrelas, assegurando a continuidade da civilização e do comércio.
Mas, na verdade o Império, apesar de seu nome autoritário, é nada mais do que um conciliador entre diversos interesses. Não há expansão militar por parte do Império. Sua expansão é econômica, política e cultural. Um planeta que deseja se unir ao Império apenas tem a obrigação de impor a sua lei básica e pagar um imposto em troca recebe a proteção de sua Frota (marinha espacial). O Império proíbe a escravidão, restringe e controla armas nucleares e de destruição em massa, além das forças armadas dos planetas que são filiados. Possui um registro de armas civis, cujas permissões são dadas com base na necessidade de auto-defesa, mas não proíbe nenhum tipo de arma em si, apenas as controla e mantém registros.
Alias, o Império é um monstruosa burocracia, com várias repartições, gabinetes e secretarias, responsáveis por manter todos os registros de um Império tão vasto que até as naves mais rápidas (e consequentemente a informação, pois não há comunicação mais rápida do que a luz) podem demorar meses até ir de um ponto ao outro.
O Império então é uma gigantesca máquina, mesmo tentando manter o máximo de eficiência possível, manter a comunicação entre todos os mundos afiliados, equipes de censo, serviço de correio (xboat), uma moeda única, entre outras muitas atribuições acaba gerando um sistema extremamente complexo, que pode ser explorado pelo grupo durante o jogo, de forma muito interessante (inimigos e rivais políticos, troca de favores, etc...).

A Nobreza

Devido a esses fatores, o império possui um sistema com características feudais. A cada planeta é designado um nobre, que atua como embaixador e como homem de ligação com o Império e com os outros planetas que são associados, resolvendo disputas da forma mais amigável possível. O Império não impede guerras entre planetas associados, ou pelo menos não por uso da força. Nem mesmo mundos que possuam vários governos em guerra ou em revolução não costumam sofrer a intervenção do Império. Apenas tentar se desvincular do Império (uma das proibições que ele Impõe aos mundos associados) gera uma resposta militar.
Além do nobre designado ao planeta, o Império designa nobres ao nível de regiões, setores e sub-setores. Arqueduques, Duques, Condes, Cavaleiros, e é claro, o Imperador em si são alguns dos títulos nobres que existem no Império. E os jogadores podem possuir personagens com esses Títulos, claro que isso depende do foco da campanha.
Essa é apenas uma pincelada das nuances do Terceiro Império, que espero falar muito ainda no futuro, pois é um cenário fascinante e cheio de possibilidades, que podem ser aproveitadas em diversos outros cenários de ficção científica.

Spinward Marches

É um setor do Espaço Imperial conhecido pela sua fama de ser um território de fronteira, e de onde nunca nada de bom parece sair. Conflitos políticos e militares são constantes na área, e as vezes transbordam para o resto do império.
Assim sendo, é um ótimo local para uma campanha de Traveller. Aqui o Império faz fronteira com várias outras civilizações: Zhodani, Sword Worlds, Darrian, entre outras menores. O nível de tecnologia varia muito de um lugar para o outro, trazendo diversas oportunidades para negociantes e e também contrabandistas.
Ainda por cima, é isolado por ter somente um ponto viável de travessia, pois se encontra em uma separação do braço espiral da galáxia, fazendo com que a única rota fácil se torne um tanto quanto inconveniente.
Aqui o braço do Império se estica ao máximo para manter as coisas sob uma relativa ordem, e a balança costuma pender para o lado errado quando se tem um vácuo de autoridade. Alguns lugares do Spiward Marches são como o velho-oeste. E alguns são ainda piores!
É por isso que esse setor foi escolhido pela Mongoose para receber um dos primeiros livros sobre cenário, de nome "The Spinward Marches", que possui o material que eu usei para grande parte desse artigo.
Esse foi o lugar que escolhi como ponto de partida para a minha campanha de Traveller, que espero poder compartilhar em artigos futuros do Saia da Masmorra, assim que acabar a resenha do sistema e do cenário!

Próxima parte (e desculpas pela promessa da semana passada)

 

Achei que essa semana ia poder falar um pouco sobre cenário, perícias e combate. Infelizmente o artigo ficou muito grande até mesmo para incluir os Aliens de Traveller aqui.
Traveller é um universo vasto e complexo, e não acho que posso fazer jus a ele sem entrar em alguns detalhes para cada tópico. Não quero decepcionar os fãs de sci-fi fazendo uma análise rasa do que é o sistema e o cenário. Acho que para muitos, pode ser o que faça a diferença entre adotar ou não o Traveller.
Por isso decidi que vou postar sobre um assunto de cada vez. Na próxima semana vamos ver como são os Aliens, fechando o que eu queria cobrir de cenário, antes de voltar para o sistema.
Também aguardem uma sinopse da aventura que será levada por mim ao próximo evento do Saia da Masmorra!

Saudações rpgísticas,

  Antônio "Wizard" Henning