quarta-feira, 20 de maio de 2015

ARCA DO TESOURO NACIONAL - DESAFIO DOS BANDEIRANTES: VALORIZANDO O FOLCLORE NACIONAL


Olá amiguinhos!

Com nossa edição especial RPG Brasil chegando, é hora de retomar um antigo projeto do blog, que é a Arca do Tesouro Nacional, que vai fazer com vocês uma viagem no tempo, apresentando os jogos primogênitos do RPG nacional a nova geração, e  relembrando ao pessoal da velha escola o espírito editorial dos anos 90.

E pra começar, nada mais brasileiro dos que o RPG Desafio dos Bandeirantes, que mistura fantasia medieval com elementos do folclore nacional. O jogo foi lançado pela extinta Editora GSA, que também foi responsável por outros ícones do RPG brasileiro, no ano de 1992, e revolucionou o mercado por trazer uma temática muito peculiar, e  demonstrar, apesar de todo ceticismo que era possível fazer algo "fora da caixa" das temáticas mais abordadas na época.


E para nos explicar melhor como foi, nada como ouvir a palavra dos autores Luiz Ricon e Flávio Andrade, que fizeram um bate pronto conosco para essa matéria:

SdM - Qual foi a proposta inicial do jogo em meio ao cenário que existia no RPG nacional?

LR - A ideia do Desafio é simples: traduzir para a linguagem do RPG todos os elementos de aventura e magia presentes na História e no folclore brasileiros. Não era para ser um RPG histórico, mas sim um RPG de Fantasia (como D&D) mas com temas inspirados na cultura brasileira. Por isso as aventuras se passam num continente imaginário muito parecido com o Brasil, chamado Terra de Santa Cruz.
FA - A proposta foi fazer um jogo de Fantasia com elementos do folclore nacional. A abordagem sempre foi priorizar o aspecto mitológico-cultural, não o histórico.
LR - A gente sempre acreditou que um cenário de fantasia inspirado no Brasil colônia poderia atrair os jogadores e mestres, seja pela riqueza da nossa cultura ou pela maior proximidade com a nossa realidade, que estimula muito mais a nossa imaginação. Para nós, a riqueza do Desafio dos Bandeirantes também vem dos conflitos presentes entre as três raças, dos dilemas morais e religiosos que permitem a criação de personagens profundas, carismáticas e desafiadoras de se interpretar.

SdM - Então, hoje olhando para trás, o jogo atingiu sua proposta?

FA - Na época, as limitações de pesquisa eram grandes. Não havia internet, google, nada disso. Até saber os livros que devíamos procurar não era tão fácil. O livro também não poderia ser muito extenso por questões orçamentárias. Além disso, tínhamos pressa, pois achávamos a proposta tão legal que imaginávamos que havia outros grupos desenvolvendo a mesa ideia naquele momento, e que a qualquer instante alguém lançaria um jogo parecido. Nesse contexto, somado ao pioneirismo da empreitada (na verdade éramos os únicos a pensar num jogo assim), creio que fomos felizes quanto ao resultado final.
LR - Com certeza! O Desafio dos Bandeirantes foi um marco no RPG nacional. Até hoje é lembrado e tratado com muito carinho e respeito por mestres e jogadores. Isso nos orgulha muito. Saber que o que pensamos lá atrás, mais de vinte anos depois ainda faz sentido, ainda é interessante para tanta gente.

SdM - E quais foram os prós e revés encontrados?

FA - O jogo foi pensado dentro de uma realidade onde o AD&D era a principal referência, e o DdB reflete isso. Mas logo depois o Vampire entrou em cena estabelecendo novos paradigmas. Isso envelheceu rapidamente o sistema de jogo. O preconceito quanto ao tema foi grande. O amadorismo da publicação era aceitável para época em que foi lançado, mas logo o nível editorial dos RPGs traduzidos alcançou um nível bem elevado. Acho que esses foram os principais impasses.

LR - Na época do lançamento, parecia muito estranho para todo mundo alguém ter feito um jogo com saci e mula-sem-cabeça. Com o tempo e o avanço do RPG para outras temáticas além da fantasia medieval (que dominava nos anos 80) a nossa proposta foi sendo mais compreendida e aceita pelos jogadores e mestres. Mas o Desafio sempre teve um público fiel, desde o início. E graças a esses pioneiros a gente conseguiu manter o jogo vivo no coração de tanta gente.

FA - A despeito de tudo isso, é um jogo divertido e dinâmico. Ele atinge o objetivo de propor uma temática nacional. Ainda que a estrutura seja dos jogos de fantasia medieval, a ambientação, não. É 100% nacional. E a ideia era essa mesmo: podemos nos divertir da mesma forma com o que é nosso. Pra meu espanto, por muitos anos fomos os únicos autores a explorar o tema no RPG: o Luiz com o Mini-GURPS, eu e o Carlos Klimick com o Era do Caos. Então acabou sendo um marco, uma bandeira importante (sem trocadilho), que mais tarde foi melhor assimilada e compreendida.

SdM - E Existe uma cobrança por uma atualização ou nova edição do jogo?

LR - Eu não chamaria de cobrança, mas sim de VONTADE. Acho que todo mundo quer ver o Desafio dos Bandeirantes de volta. Já tivemos várias tentativas de trazer o jogo de volta, muita gente vem com propostas bacanas mas ainda não era o momento.  Mas eu tenho sentido um movimento bem legal da cena indie que combina com o que a gente sempre pensou sobre o RPG então, quem sabe não exista a chance da gente trazer o Desafio de volta? Vontade não falta.

FA - Pois é, esse é um assunto recorrente.

SdM - E para finalizar, como vocês acham que o jogo contribuiu para o cenário do RPG atual?

LR - Difícil dizer. Acho que o jogo marcou um momento importante e mostrou para muita gente que é possível fazer RPG para além dos gêneros mais populares (fantasia, horror, FC). Acho que a nossa experiência, a forma honesta com que tratamos os temas do folclore e da cultura brasileira inspiraram muita gente e hoje em dia dá muita alegria ver gente que nem era nascida quando o livro deixou de ser publicado nos mandando emails sobre o jogo, pedindo a sua volta. Acho que o Desafio abriu um caminho que espero que continue sendo explorado, de se fazer não aquilo que vai fazer mais sucesso de imediato, mas sim aquilo que é mais verdadeiro, mais genuíno, mais sincero. Esse acho que é o maior legado do nosso Desafio.

FA - Tagmar e Bandeirantes foram lançados com a diferença de um ano. Nesse meio tempo havia saído um jogo de espionagem em Florianópolis. Independentemente da ambientação, o importante naquela época foi mostrar que "sim, nós podemos". Em termos de contribuição para a cena nacional, creio que isso foi o que realmente fez diferença. O fato de ser uma ambientação nacional acaba sendo mais relevante nos dias de hoje.

O saia da Masmorra agradece muitíssimo a disponibilidade dos autores, e espera que vocês tenham curtido conhecer um pouco mais do universo de Desafio dos Bandeirantes, e da perspectiva dos autores.

E não se esqueça, dia 23.05, a partir das 12:00 tem Desafio dos Bandeirantes na edição RPG Brasil. Acesse o link do evento e marque sua presença: https://www.facebook.com/events/957922957593779/957923050927103/

Let's game!

Edson Sorrilha.

3 comentários:

  1. Show de mais a entrevista. Apesar de não ter atingido a notoriedade como outros sistema, DdB é um icone do RPG Nacional.

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  2. uma pena que Ddb não tenha continuado seria de grande valia a uma geração que acha que saci pereré tem menos importância que algum duende irlandês .

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  3. Obrigado amigos do Saia da Masmorra.
    Sábado tem Desafio dos Bandeirantes!!!

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