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Explico: o filme, apesar de ter a participação de Katsuiro Otomo, o criador do mangá e diretor da animação de 1988, que tinha um orçamento de cerca de 200 milhões iniciais, foi vendo o financiamento gradualmente cair para 100 milhoes e agora agonizar em parcos 60 e poucos.
Para qualquer padrão no resto do mundo, com um pingo de sanidade, seria MUITA grana para fazer a película funcionar (e bem). Mas para os padrões Hollywoodianos (que andam meio esquyecidos de como fazer bons filmes com menos dinheiro) isso significa que o filme não terá muitas chances de apresentar qualidade técnica adequada. Até porque o filme terá de tentar cortar cenas "mais caras" (vulgo, muitas cenas de ação) para, se conseguir, poder ser levado adiante.
Eu fico feliz. Não acho que Akira precise de fato de um live-action, e é o tipo de coisa que pode queimar algo até aqui com histórico impecável (o mangá e a animação originais são muito bons).
O roteiro, segundo boatos, colocaria Kaneda como dono de um bar (???), portanto adulto (????), e irmão de Tetsuo (isso passa). A ação se passaria em Manhatan (Hummmmm....), reconstruida após um certo acidente que teria destruído a ilha original. E a mocinha "Kai" era fortemente cotada para ser interpretada por aquela atriz sem expressão de Crepúsculo.
Vulgo, falta de criatividade absurda. É arriscado colocar adolescentes em papéis, ok, mas não é impossível se conseguir fazer isso, se bons atores jovens (e eles existem) forem encontrados. Boa parte da graça de Akira vem exatamente da imaturidade dos personagens que, se envelhecidos, seriam um tanto idiotas por se comportarem assim.
O QUE É "AKIRA"?
Akira (se alguém ainda não sabe) foi um mangá extremamente importante, que bebeu diretamente da fonte do "movimento" (cyberpunk) americano de renovação em ficção científica. Além de um aspecto gráfico extremamente criativo (principalmente na corrida de motos), a história tem uma complexidade razoável (ainda que um pouquinho de "direita conformada"), e criou um dos maiores icones de todos os tempos: A moto vermelha de Kaneda (essa eu bem que queria ver como ficaria "de verdade").O filme/mangá gira em torno da relação entre Tetsuo e Kaneda, dois amigos de infância com uma relação de co-dependência complicada. Quando Tetsuo finalmente resolve sair da "asa" do amigo, a relação azeda. Coloque na receita poderes psionicos, altíssima tecnologia, e movimentos políticos radicais de ambos os lados (fora o bla bla bla mistico, que acho chatinho, mas não chega a incomodar de fato), e temos uma fórmula bem cyberpunk, por ser Ficção Científica politizada e crítica sobre a sociedade de consumo.
A Neo-Tokio, aliás, é um personagem a parte. O filme tem ecos de um possivel sentimento de perda de identidade japonesa (isso é chute, não tenho critérios para avaliar se o que falo é verdade), e me parece, da mesma forma que um certo "Monstro Atomico pisoteador de maquetes" (Godzilla) , escancara uma certa ferida não bem cicatrizada na tragédia de Hiroshima e Nagazaki no imaginário do país.
Com prédios faraônicos, miséria em todos os lugares, revolucionários despreparados, pólíticagem pequena, cientistas descabeçados e militares casca-grossa, a explosão de Akira que destrói a cidade (duas vezes) é quase bem-vinda, pois é libertadora, dá um "reboot" (digno de um big-bang ou de uma espiral similar a um DNA). Os personagens da gangue só tem identidade quando se vêem pertencentes a um grupo, e nele buscam encontrar seu papel, em uma gigantesca cidade-babilônia que parece engolir, do mesmo modo que Tetsuo engole e absorve objetos, as pessoas que em Neo-Tokio vivem.
É uma força da natureza transformada em catastrofe que, repetida, permite gradualmente, a sociedade (japonesa) a re-elaborar que sociedade desejam, que identidade desejam (não a toa, alguns dos personagens são tratados como números e cobaias no filme e no gibi).
A falta de identidade e a busca pela superação de seus próprios limites mostra ao mesmo tempo que um maravilhamento com o poder adquirido, a idéia de que todos os envolvidos é que sejam as crianças (pois justamente os tres "pequenos" psionicos parecem ser os únicos que entendem a profundidade do problema envolvido). Ou, talvez o único "adulto" seja o Coronel.
A música é um pouco hipnotizante e se funde de maneira genial com algumas das cenas (sobretudo no começo do filme). Separada se esvazia de sentido, mas ainda pode agradar alguns.
Enfim, só divagando aqui. Seja como for, duvido que um filme com atores desse conta, minimamente, da complexidade que o Mangá e o Animé conseguiram alcançar, seja em termos de idéias, seja em aspectos visuais.
Quem não assitiu, assista. Quem não leu, leia.
Ps: Devo mestrar "Cybergeneration: Akira" no ppróximo sábado, dia 14 de janeiro, na Point HQ. Se alguém se interessar, aparece por lá.
Abraços
Brega
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