sábado, 13 de outubro de 2012

Coisinha Verde, e o que é Cyberpunk:

Tio Brega não podia ficar mais feliz.

Não tenho detalhes sobre  o projeto, mas a editora COISINHA VERDE se perpara para lançar um jogo de Cyberpunk. Tanto que eles estão consultando jogadores para saber  o que eles desejam em um jogo Cyberpunk.

A editora, que é uma das 4 atuais que tenho acompanhado (Coisinha Verde, Secular Games, Retropunk e Redbox) tem feito coisas bem interessantes, como "D.O.G.S.", que tem inspiração em filmes a lá Tarantino, e se seguirem o bom faro, devem fazer algo bem interessante. Segue a minha opinião.

Mas afinal, tio Brega, qual é a essência de um jogo Cyberpunk?

Ora, sobrinhos, aproveito a boa noticia e explico:

Uma discussão sobre a essência do que é afinal, ser um humano.

-Do ponto de vista SOCIAL, CyberPUNK é uma discussão sobre os resusltados de polpiticas econômicas de concentração de capital, consumismo e desenvolvimento baseado em modelos absolutamente insustentáveis.

O movimento Cyberpunk trata de grandes catástrofes, desde gigantescos tornados permanentes, desertificação, fim do petróleo, pragas, nanopragas, biopragas (contra plantas) morte de espécies, chuva ácida, aquecimento global, zonas radiotivas, etc.

Ao mesmo tempo, a ação se condiciona em locais como cidades sufocantes, com prédios enormes, estradas sem fim e um universo tecnológico na qual o personagem pouco, ou nada, pode fazer para modificar alfgo senão pequenas peças na engrenagem.

Em Cyberpunk tudo é enorme. A arquitetura, já citada, torna os seres humanos ainda mais insignificantes. As megacorporações fazem do consumidor mediano um inutil. E disso é que vem o "Punk", pois  o personagem tipico é, normalmente um super-habilidoso assassino, hacker  ou corporativo, que sobrevive no fio da navalha.

A maior parte dos personagens de Phillip K. Dick são sobreviventes, por exemplo. Um policial viciado em uma droga que deve combater, um caçador de andróides que deve enfrentar super-assassinos genéticos, um investigador que descobre ser o proximo criminoso em uma máquina que prevê assassinatos antes que ocorram, etc. Ele é  um autor "pré" cyberpunk em termos cronológicos, mas ninguém discorda que seja a principal força literária motriz do movimento.

O Social impõe novas necessidades ao corpo. De estéticas a capacidades específicas. Afinal, um bom profissional passa a ter de, para competir com criminosos, de realizar implantes e fazer modificações em si mesmo. O que nos leva ao biologico...

-Do ponto de vista BIOLÓGICO, Cyberpunk é uma discussão sobre  o que é ou não o corpo humano. O assunto é discutido tanto na questão da substituição de partes como pernas e braços por componentes de alta tecnologia, como nos cérebros eletrônicos (como em Ghost In The Shell), ou mesmo na genética, como em Blade Runner.

O que é o corpo humano e se ele, de fato, é ou não nossa essência é, inclusive, o ponto de partida para toda uma linha filosófica chamada "Antropologia Cyborg", que discute os limites entre  o corpo e  o ser de forma magistral. Donna Haraway, uma das expoentes da Antropologia Cyborg, por exemplo, discute  o corpo feminino e os cyborgs (para ela, somos todos cyborgs) com uma força argumentativa única.

Em Cyberpunk 2020, por exemplo, existe a cyberpiscose, um elemento para falar de como a relação de identidade de um corpo é modificada e modifica o emocional. O que nos leva ao...

-Do ponto de vista Psicológico, o cyberpunk explora os limites da percepção (daí a função das drogas alteradoras da realidade e da Realidade Virtual), religião (tende ao paganismo, pois é decendente direta das idéias contidas no movimento Hippie), e relações afetivas e eróticas, desde a androide do livro "Blade Runner" (que em português seria algo como "Será que ovelhas mecânicas sonham?") à sexo virtual e a questão das "musas" fabricadas pela mídia (como "A mulher de Vermelho" em Matrix.

Como cada indivíduo responde a essas novas percepções de realidade, como o consumismo é relevado ou criticado, como a modificação da essência de cada um interfere dentro de um grupo nos leva ao SOCIAL, uma vez mais.

Há em tudo isso outro ponto, como talvez o leitor perceba:
Nenhuma das três categorias acima citadas são "indepententes" de modo cartesiano. Vulgo, falar de qualquer uma delas, mexer em qualquer uma delas é mover no todo.

Ao contrário da maioria das FC clássicas, que são quase utópicas ou destópicas, mas falam de um futuro permanente, Cyberpunk fala de um futuro em constante transformação (não a toa, K. Dick era fã do Livro das mutações, o I Ching, mas isso é outra discussão).

A tecnologia, a "Technée" se torna a essência do homem, o objetivo unico para qualquer outro fim. E isso não poderia ser mais cyberpunk. Maquina (e tecnologia) se fundem ao homem de tal maneira que fica impossível se distinguir um de oyutro. Não há mais uma opção "usar ou não da tecnologia", mas sim apenas escolher quais serão usadas.

Não há, em cyberpunk, uma opção de se voltar ao verde (e nisso, o Movimento Cyberpunk se distingue do movimento hippie, aliás), porque já está indelevelmente contaminado, sujo de óleo até a alma, espetado, cromatizado, eletrizado e alimentado pela tecnologia.

 Cyberpunk é, para mim portanto, uma pergunta, em essência : A tecnologia e sua corrente de mudanças nos permitem, enfim, definir  o que sobra como a essência humana, ou ela nos modifica, a tal ponto, de deixarmos de sermos humanos e nos transformarmos em outra coisa?


4 comentários:

  1. Concordo com tudo o que você falou Brega! Apenas acrescentaria umas coisas. Violência urbana é uma marca, um tipo de apartheid nas cidades, zonas das empresas e dos consumidores e do lado de fora a ralé. O enfoque no entretenimento como meio de dominação e alienação das massas. Empresas acima dos estados. Exércitos próprios das empresas e a globalização atenuante. O enfraquecimento das religiões e a crença quase absoluta na tecnologia. O genero é genial, minha unica preocupação seria quanto ao sistema de jogo. De qualquer forma parabéns a Coisinha Verde por + essa. E como muitos dizem. Cyberpunk is not dead!

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  2. Esqueci de mencionar uma coisa. A exploração espacial, temos filmes como Alien com a empresa Weiland que tem mega cargueiros que trazem matéria prima do espaço e temos o Vingador do Futuro onde Marte é habitado por humanos, aliás nesse filme existe algo muito legal ao meu ver que dá o tom da ambientação que são as mutações.

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  3. Sium, esses são desdobramentos possíveis. A violência não é necessária como pano de fundo, porque tem alguns livros e filmes que dela prescendem, como o conto que originou Total Recall; Há a persweguição policial e coisa e tal, mas é secundária. Outro exemplo é o conto "Consertador de bicicletas" que ainda que exista uma "cyber-ninja" na história, não é a violência fundamental.

    E Exploração Espacial é uma possibilidade sim. Como bem lembrou, existe em vários filmes e livros (um bom exemplo é Outland, Comando Titânico), e mesmo no filme Blade Runner existe como pano de fundo. Mas tbm é tempero para dar mais sabor, porque não é "essencial", mas um complemento bem vindo.

    As mutações entram no quesito "o que nos faz humanos". Um bom livro cyberpunk envolvendo mutações é "Anjo dos Condenados" ou algo assim, um livro que, extra-oficvialmente, parece ter inspirado o "A Cela" (filme que dficou fraco, no fim das contas, com a Jennifer Lopes).

    E boa parte da literatura anos 80 de FC falando da vida pós guerra nuclear, com escorpioes gigantes e afins.

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  4. Sim eu sei, + uma das máximas é High Tec low life né, e quem está a margem normalmente parte pra violência pra conseguir o que não tem

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