quarta-feira, 12 de agosto de 2015

VIRGO, Volante de Aluguel - pt1 (Um Conto Cangaço Punk)

O que é "Cangaço Punk"?: Definição
O termo já existe em outros conceitos (moda e musica, por exemplo), mas aplicado ao que explico aqui, só no RPG do amigo Hudson Cesar, criador do sensacional "Além da Cupula do Opalão".

Em termos gerais é uma mistura de "Mad Max" com o cangaço brasileiro, formando (propositalmente) um impreciso ambiente geográfico e histórico que traz para o solo brasileiro um ambiente pós-apocaliptico que, acreditem, nada deixa a dever aos similares gringos.

De acordo com a linha histórica por ele desenvolvida, o ambiente de seca do nordeste das histórias cl´ssicas é repovoado em uma região dominada por jagunços armados por armas modernas, carros se enfrentando em um ambiente de desolação, e onde a agua e o combustível são bens que valem mais que o sangue de quem dos detém.

O "opala" do título é um misterioso veiculo que, de acordo com boatos, persegue e atropela pessoas nas estradas do sertão, gerando medo e/ou esperança dependendo de quem os boatos afirmam ter o veiculo assassinado.

Os jegues, os carros envenenados mas semi-destroçados, os personagens loucos, os messias e a miséria estão por todos os lugares, e sobreviver a cada dia é uma provação para os loucos e os hábeis.

O cenário, a partir do esqueleto original do autor, está gerando uma série de contribuições entre o pessoal da "Encontos Marginais", a mais anárquica das comunidades de RPG; Boardgame  no Facebook.

Um frankstein parte puro cenário de um autor, parte fruto da imaginação febril de colaboradores, é um cenário que ainda vai fazer barulho.

Importante: o jogo é um cenário de ação, não de humor, ainda que o humor negro e a temática adulta façam parte do mesmo. Ele está sendo incentivado (e ameaçado e chantageado) a formatar o material e publicar. Na minha kodesta opinião será uma excelente contribuição para o mercado brasileiro. Alô-alô editores, prestem atenção no cara. Tio Brega recomenda.
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Abaixo segue a primeira parte de um conto "Cangaço Punk" que estou fazendo para enriquecer o cenário do Hudson. (Publicado com autorização dele - somos marginais e punkers, mas dar o respeito a quem tem uma boa idéia é fundamental).

Segue:
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VIRGO, Volante de Aluguel - pt1
A marcha da máquina começou a emperrar, de novo, quando ia para o ponto morto. Virgo queria muitas coisas, mas um lugar que ainda tivesse óleo lubrificante era um dos que andavam no topo de sua lista. A areia fina estava causando um bom estrago e, em breve, não haveria um mecânico em todo o Recôncavo que conseguiria dar um jeito no fusquinha. 

Mas até a marcha seria um problema secundário se ela, nos próximos 10 quilômetros, não conseguisse uma forma de arrumar combustível. O motor já havia sido adaptado para o padrão flex (que incluía diesel, gasolina, álcool e, se as leis da física e da química tivessem permitido, até sangue humano). Mesmo assim, cada quilômetro a mais rodado estava se transformando em um pesadelo. 

Virgo checou novamente o mapa feito à mão em busca de uma solução. Desceu e subiu os óculos de motociclista, socou o volante e esfregou seu santinho enquanto pensava furiosamente em busca de uma alternativa. 

Não contava com o posto de areia destruído pelo novo “messias” da semana na região (como alguém pode achar que óleo diesel é o sague do demônio? Fala sério!) e agora estava em apuros – de novo. 

Do lado de fora, algumas crianças brincavam com a cabeça de um animal (uma vaca? Elas não eram as com chifres?) e o ex-frentista do posto permanecia prostrado na cadeira enferrujada. As marcas no rosto dele denunciavam que ele não era exatamente um adepto do tal maluco, mas que tampouco era burro e soube a hora de desistir. Pelo bem das crianças. 

O enorme tanque de refinaria não estava mais pegando fogo, mas a fumaça que entrou pelas narinas a fez chorar. E não por causa de uma irritação nas narinas. Mas chorar em tempos de seca era um desperdício tão grande quanto queimar um dos últimos depósitos de diesel da região. Era um local sagrado, com a qual nem as gangues mexiam, já que as chances de desperdiçar o pouco do líquido que havia era alto demais para valer o risco. 

E, claro, porque aquele posto pertencia aos Cacheiros, o grupo paramilitar mais bem-armado de todo o Sertão. Quase tinha pena do falastrão messiânico e seu grupo de imbecis. Quase. Mas Darwin agia certo por linhas estranhas, e ela duvidava que os cacheiros não mostrassem o inferno para os fanáticos. Mas, bem, isso era um POP – um “problema de Outra Pessoa” –, como dizia um trecho de um livro que lera uma vez. 

E o problema dela, agora, era o suficiente: combustível, energia, locomoção. Ir de A a B, mover ou morrer. Pistões ou pistolas, diria sua irmã, o fato é que uma entregadora era de pouca valia se estivesse paralisada. E os contratos deixavam claro, geralmente, que combustível, era um problema dela. 

Ficar muito tempo no mesmo lugar atrairia aves de rapina, como os Carcarás de Sangue, os Abutres do Asfalto ou os Corvos Nunca Mais. E ela não mantinha o rostinho bonito longe de encrencas dando mole. 

Quando um furgão – Deus Ex Machina – passou a toda na direção contrária, ela teve um estalo. Aquele era um carro da Refinaria: grupo de fazendeiros que conseguia produzir energia liquida do sol, plantando versões resistentes de cana-de-açúcar em imensos galpões – os sobrados – e vendendo depois. Pelos olhos da cara, ou arrancando um deles se alguém se metesse em seu caminho. 

Virgo saiu para a poeira e foi até a tenda improvisada. Lá havia algumas redes, todas vazias, e um balcão que vendia calango. Com dois torrões de açúcar e 100ml de água fez uma refeição decente enquanto pensava como usar esta informação. 

Os Cacheiros eram pagos pelos Refineiros pela segurança externa. Os melhores jagunços que o dinheiro poderia comprar. Os Cacheiros retribuíam a confiança revendendo os produtos da Refinaria a preços pouco convidativos. Uma simbiose poderosa. Quem não sabia usar armas ou pilotar, plantava. Quem não sabia plantar, usava armas. E quem não fazia nenhum dos dois, morria na estrada. 

Darwin, outra vez. 

Virgo decidiu que preferia morrer tentando (e de alergia a chumbo) a ser estuprada por meia dúzia de imbecis na areia. Ela tinha algumas armas, um carro que não era dos piores e a incrível capacidade de desaparecer por dentro dos cânions da região se o bicho pegasse. E uma caixa de placas de vídeo para entregar para meia dúzia de hackers. Uma vez sentada ao volante, ela ligou a máquina e se dirigiu à área que parecia ser da Refinaria.
(Continua em Virgo Parte 2)

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