Financiamentos Coletivos: Algumas Considerações

Sinal de Alerta para os Financiamentos Coletivos?

Ou sinal de que nem tudo são flores e o pessoal precisa saber como fazer?

Em um momento de comemoração e alívio, a boa notícia da semana é que o CoC atingiu sua meta. Algo excelente e que trará mais impulso para  o mercado nacional.

Mas o projeto bateu na trave antes de entrar. Houve uma preocupação do projeto não sair (dai campanhas e textos de autores diversos sobre  o porque contribuir).

Minha ideia, portanto, não é a de ser catastrófico ou alarmista.
TEMOS uma indústria do RPG que está saudável e crescendo bem. Mas um mercado ainda em crescimento e miúdo, que precisa ser bem trabalhado. É preciso reconhecer que Financiamento Coletivo ainda é arriscado, e precisa ser devidamente lapidado para ter alguma chance.

Call of Cthullhu tem uma capa bacana, prêmios decentes, é um jogo extremamente popular e insanamente bem quisto, e foi conduzido com maestria pelos organizadores do Financiamento Coletivo (F.C.). Se um EXCELENTE projeto como este teve seus riscos, é porque o mercado ainda tem dificuldades e é preciso reflexão em projetos vindouros.

Uso eles (CoC como exemplo positivo, mas ao mesmo tempo, espero que acenda uma luzinha em vocês: F.C. NÃO é certeza de nada, é uma estratégia comercial que precisa ser muito bem trabalhada e que "não é magia, é tecnologia", além sangue, suor e lágrimas.

Financiamentos Coletivos (F.C.) TENDEM a funcionar se bem planejados, mas certamente não irão dar certo se forem feitos "nas coxas".

 Algumas contribuições minhas (  lembrando que eu NUNCA fiz um financiamento coletivo, esclareço, então posso ter falado uma penca de asneiras. Mas acho que é um assunto a ser discutido. Não com paus e pedras, mas com calma e reflexão de como fazer funcionar melhor) :

1) Idoneidade dos envolvidos: Se um dos envolvidos estiver (com ou sem razão) queimado no mercado, atenção. Como o FC é um projeto que envolve confiança do mercado, é preciso muito cuidado porque o naipe dos promotores pesa pacas. Nestes casos, em que um envolvido crucial para o projeto esteja relacionado ao Financiamento, melhor pensar outras estratégias, quando possível.

2) Forma de pagamento e site coletivo: Manjo pouco disso, mas coisas como prazo, idoneidade do site e formas facilitadas de pagamento (e re-embolso) são importantes para se aumentar as chances de um financiamento. Não sei quais são os mais adequados, repito, mas vale a pena pesquisar e ver quais tem melhor aceitação entre potenciais investidores.

3) Valor e metas: A meta básica não pode ser elevada demais (na minha opinião). Temos um mercado reaquecendo, mas ele cresce de forma saudável, porém lenta. Há um numero finito de pessoas que podem contribuir e com quanto podem contribuir. Assim, metas básicas muito elevadas ainda são de risco maior. cuidado ao se estabelecer um valor neste sentido.

4) Recompensas: Uma das coisas que mais vejo chiadeira (algumas com razão, outras não) é com a "justiça" das metas. tipo, um valor de sei lá, 100 reais para o livro + PDF + Miniatura do Edson fazendo cara de Troll contra um de 150 reais com as opções acima mais um "pergaminho " pode não atrair tanto como uma de 150 reais com as opções primeiras mais um conjunto de dados explosivos , etc.

Fora isso, o valor cobrado precisa ser viável financeiramente. Há custos para cada brinde e não é barato. Não apenas o brinde em si, mas o envio pelo correio precisa ser devidamente medido. Coisas como volume, peso e tempo de embalagem (alguem vai ter de embalar os mimos, opois não/) contam enormemente.

5) DIVULGAÇÃO : Nem tanta divulgação que vire Spam, nem tão pouca que seja nula, uma boa divulgação (de novo, em minha opinião, não estou cagando regras, só opinando) são aquelas graduais, que criam expectativa e vão sendo gradualmente trabalhadas.

Foi o caso em "little Fears" de escolha de capa. Apensar do projeto não ter deslanchado, criou-se uma expectativa positiva em cima do livro, e isso ajudou. Não deu certo, ok, mas poderia ter sido fundamental se tivesse funcionado o fc deles.

A Divulgação precisa ser feita de várias formas. Em blogs o FC precisa criar noticias que os blogueiros possam anunciar, tipo, "nova meta criada para o financiamento de "Guerra dos Orcs" - Um trono de ossos em miniatura tal e tal", com imagens etc. MESMO que a tal meta não seja alcançada (mas deve ser feita de forma a que POSSA ser alcançada) isso estimula o pessoal, gera interesse, etc.

6) Auto-correções e Mea-culpas: Gente, simplesmente muitas vezes simplesmente não existe mercado para um livro. Alguns são caros demais, outros não são conhecidos, e outros são lançados em ´pepocas que similares j´pa existem, e não há mercado, naquele momento, para isso. Por exemplo, se eu fosse lançar um RPG de politica medieval (como House of the Blooded), o faria em um momento que o GoT RPG não estivesse bombando, porque isso poderia me empatar o lançamento. Há uma estratégia oposta, que é a de lançar um produto assim EXATAMENTE quando há alguma concorrência, mas é preciso MUITO bom planejamento para isso ser positivo em vez de acabar ferrando o seu lançamento e o de outras pessoas.

Seja como for, se a campanha tiver algum furo, aceite isso e fale sobre isso abertamente. Não culpe terceiros, não diga "o pessoal não sabe o que é bom (ninguém disse isso, não estou sendo irônico com ninguém), etc. Saiba conduzir a discussão e mantenha a cabeça fria. Se errou, assuma o erro e tente consertar.

É mais simpático e o publico reconhece e gosta deste tipo de coisa.

Alias, último ponto: Relações nas redes sociais:   Moçada, MUITA, mas MUITA paciência e tato. Não só para quem quer lançar algo, mas pelo bem do convívio em si. Eu, que nem sempre sou uma flor de pessoa, faço o possível. Algumas vezes consigo, outras não, mas isso não justifica não tentar. Com algumas pessoas não vou me dar bem nunca (já tentei algumas vezes, alias, mas desisti). Outras podem ser uma grata surpresa descobrir que o cara é gente fina.. deixem a irritação dentro de tópicos específicos, evitem xingar a mãe ou chamar a irmã de gostosa, dedo no olho e afins.

Já somos poucos, se nem entre nosso minguado grupo de jogadores conseguirmos um pingo de bom convívio, imagina com quem acha a imaginação subversiva, coisa do capiroto,  ou perda de tempo inútil.

LEMBREM-SE do mantra do Tio Brega:

CALMA, É SÓ RPG!

Ps: O texto original foi escrito na comunidade Saia da Masmorra Facebook, a qual fiz algumas alterações. Esta postagem não se propõe a ser um estudo definitivo sobre  o assunto, e sugiro a leitores blogueiros que teçam seus próprios comentários e estimulem a discussão sobre  o assunto.

Abraços
Brega Presley, saindo lentamente da tumba de suas férias no Blog.