sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Cyberpunk 2/5




Cyberpunk e FC

II – Utopias e Distopias:
“It Was the Worst of the times, it was the best
of the times,it was a Cyberpunk kind time”
É situação recorrente e quase absoluta, na FC, a existência das chamadas “utopias” e das chamadas “distopias” (anti-utopias).
As Utopias são criadas (e às vezes momentaneamente ameaçadas) muitas vezes com o uso da “Razão”, onde uma organização social é tão perfeita, que as coisas se encaixam como uma luva, cada pessoa sabe seu lugar e tudo funciona às mil maravilhas. Quase nenhuma, por exemplo, cita advogados (porque não se cometeriam, praticamente, crimes), os índices de analfabetismo seriam extremamente pequenos ou nulos, e oportunidades sócias a jovens motivados são possíveis. Walden II (de Skinner, o nome é uma homenagem ao “Walden” original), por exemplo, descreve uma sociedade rural onde o uso da psicologia comportamental torna a vida de todos mais feliz e agradável.
Já as “Distopias” em geral se caracterizam por uma crítica ferrenha e ácida a elementos vingentes da sociedade, comportamentos e, normalmente, ao governo.
“Paris no Século XX”, de Verne, é um livro bem mais sombrio do que qualquer leitor comum dele possa pensar. Verne critica a quase totalidade do racional, que sufoca os prazeres subjetivos do homem.
Mas os dois livros fundamentais, em minha opinião, para entender distopias (prefiro elas à utopias) são “Admirável Mundo Novo” e “1984”.
Em 1984 (George Orwell), resumidamente, a imagem que o próprio livro traz do futuro, é a de uma bota esmagando uma face eternamente. O controle exercido pelo “Grande Irmão” (e banalizado por um certo Reality Show), é a de que um estado com controle absoluto sobre a vida de seus cidadãos, seria de uma crueldade igualmente absoluta. Era uma critica ao regime totalitário deStalin, mas também erauma crítica ao totalitarismo, de forma geral.
Já o controle social de “Admirável Mundo Novo” (Aldous Huxley) é mais sutil e pernicioso. Ao invézde se estabelecer pelo medo, se apresenta em virtude de “prazeres até a morte”, ou seja, de uma situação social que Marcuse chamaria de ”Dessublimação Repressiva”, que basicamente é alienação que o consumo (de tudo, objetos, drogas e pessoas) produz, uma incapacidade de se perceber a própria angustia e lutar contra ela de forma mais produtiva.
A “Novilíngua” Orwelliana teria esta função, mudando o significado de palavras de forma a se criar eufemismos que impedissem críticas. Há, e1984, também os “5 minutos do ódio” (cinco minutos diários de gritos e palavreado contra alguma figura a ser odiada, tipicamente um “inimigo do estado” inventado).
Mas é em “Admirável” que este tipo de controle é mais extenso e melhor descrito. Drogas, como a “Soma” se assemelham sombriamente aos”prozacs” e “viagras”, vendidoscomo pílulas da felicidade, os programas de televisão que misturam o “virtual” ficcional e a realidade, as relações sociais que envolvem uma afetividade banal, a própria “solução” de problemas sociais complexos na base de campeonatos, brigas de torcida, copas e olimpíadas, as celebridades fugazes e a falta de espaço não para a leitura de “Shakespeare” ou outros clássicos, mas sim a impossibilidade cotidiana de tempo para digestão destes, etc.

Há um site com uma HQ interessante comparando 1984 e Admirável Mundo Novo em: http://www.recombinantrecords.net/docs/2009-05-Amusing-Ourselves-to-Death.html

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